6.06.2011

Identificação do tipo de retórica em Efésios

Toda a epístola aos efésios surge como uma grande exortação, uma exortação a que os cristãos desta cidade assumam verdadeiramente o modo de viver do Senhor. Por isso, encontramos um uso abundante de uma retórica de tipo deliberativa, juntamente com dissertações expositivas, no início da epístola.

Assim sendo, encontramos uma dissertação expositiva, que vai desde o início da epístola até 2, 22. Nesta primeira parte, Paulo começa por dar graças a Deus pelos efésios, uma acção de graças em forma de hino cristológico (1, 3-10), a que Paulo dá continuidade com uma espécie de embolismo (1, 11-14). Neste primeira parte da epístola, Paulo fala de forma colectiva – a salvação manifestada em Cristo para um “nós” – louvando a fé dos efésios (1, 15-23), a vida nova que receberam por Cristo em contraposição com a vida antiga (2, 1-10), e a universalidade da salvação, que derruba o muro entre judeus e gentios (2, 11-22).

A apontar algum uso de uma retórica forense, apontaríamos o excerto 3, 1-13. Embora não seja possível identificar aqui uma defesa propriamente dita, o Apóstolo fala sobre si e sobre a missão que Deus lhe confiou em relação aos efésios, certamente recordando a origem da sua autoridade.

De seguida, encontramos então o grande cerne da epístola onde Paulo faz uso de uma retórica deliberativa. O seu conteúdo fundamental é a exortação à vida nova recebida em Cristo, com o predomínio dos verbos no tempo presente.

Entre os vários temas de exortação, encontramos: Paulo que exorta os efésios a que Cristo habite nos seus corações, para conhecerem as dimensões do seu amor (3, 14-21); a unidade e o tema do único corpo em Cristo (4, 1-16); a perfeição moral (4, 17-5, 7); o ser luz no Senhor, em continuidade com o anterior (5, 8-18); amor de Cristo, modelo de amor conjugal (5, 21-33); respeito nas relações familiares e sociais (6, 1-9); e, enfim, o tema da luta do cristão (6, 10-20).

6.05.2011

Identificação do tipo de retórica e das dimensões do Ethos, Pathos e Logos na Primeira Carta aos Tessalonicenses

1. Identificação do tipo de retórica

Segundo Aristóteles podemos distinguir três tipos de retórica: dissertação Expositiva, Deliberativa e Forense:

a) Dissertação Expositiva, que está relacionada com o louvor ou a crítica, celebrando valores e motivos comuns. A audiência é objecto de louvor ou de crítica. O tempo é o presente.

1 Tes 1, 2-10

2Damos continuamente graças a Deus por todos vós, recordando-vos sem cessar nas nossas orações; 3a vosso respeito, guardamos na memória a actividade da fé, o esforço da caridade e a constância da esperança, que vêm de Nosso Senhor Jesus Cristo, diante de Deus e nosso Pai, 4conhecendo bem, irmãos amados de Deus, a vossa eleição, 5pois o nosso Evangelho não se apresentou a vós apenas como uma simples palavra, mas também com poder e com muito êxito pela acção do Espírito Santo; vós sabeis como estivemos entre vós para vosso bem. 6Vós fizestes-vos imitadores nossos e do Senhor, acolhendo a Palavra em plena tribulação, com a alegria do Espírito Santo, 7tendo-vos, assim, tornado um modelo para todos os crentes na Macedónia e na Acaia. 8Na verdade, partindo de vós, a palavra do Senhor não só ecoou na Macedónia e na Acaia, mas por toda a parte se propagou a fama da vossa fé em Deus, de tal modo que não temos necessidade de falar disso. 9De facto, são eles próprios que contam o acolhimento que vós nos fizestes e como vos convertestes dos ídolos a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro 10e para aguardardes do Céu o seu Filho, que Ele ressuscitou de entre os mortos, Jesus, que nos livra da ira que está para vir.

Paulo louva a comunidade de Tessalónica, com quem tinha criado laços muito fortes.

b) Deliberativa, que está relacionada com Exortação ou a dissuasão. Tem como objectivo adoptar ou recusar uma determinada posição. Aqui, é a audiência que tem o papel de decisão: são os ouvintes que em última análise fazem a operação. O tempo desta retórica é o futuro, prevendo uma atitude a adquirir ou a concretizar.

1 Tes 4, 1-12

1Quanto ao resto, irmãos, pedimo-vos e exortamo-vos no Senhor Jesus Cristo, a fim de que, tendo aprendido de nós o modo como se deve caminhar e agradar a Deus - e já o fazeis - assim progridais sempre mais. 2Conheceis bem que preceitos vos demos da parte do Senhor Jesus. 3Esta é, na verdade, a vontade de Deus: a vossa santificação; que vos afasteis da devassidão, 4que cada um de vós saiba possuir o seu corpo em santidade e honra, 5sem se deixar levar pelo desejo da paixão como os pagãos que não conhecem Deus. 6Que ninguém, nesta matéria, defraude e se aproveite do seu irmão, porque o Senhor vinga tudo isto, como já vos dissemos e testemunhámos. 7Com efeito, Deus não nos chamou à impureza mas à santidade. 8Pois quem despreza estes preceitos não despreza um homem, mas o próprio Deus, que vos dá o seu Espírito Santo. 9A respeito do amor fraterno não precisais que se vos escreva, pois vós próprios fostes ensinados por Deus a amar-vos uns aos outros; 10aliás, vós já o fazeis com todos os irmãos da Macedónia. Exortamo-vos, irmãos, a progredir sempre mais, 11a ter como ponto de honra viver em paz, a ocupar-vos das próprias actividades, a trabalhar com as vossas mãos, como vos recomendámos, 12de modo que vos comporteis honestamente perante os de fora e não preciseis de ninguém.

Paulo exorta os Tessalonicenses a preservarem no caminho da santidade, da pureza, do amor mútuo, utilizando frequentemente os verbos no futuro.

c) Forense, que está relacionada com Acusação ou a defesa. O objectivo é assegurar que se faz justiça, ficando o juízo ao encargo dos ouvintes. O tempo é o do passado, pois pretende julgar algo feito no passado.

1 Tes 2, 1-12

1Irmãos, vós próprios bem sabeis que não foi vã a nossa estadia entre vós; 2mas, tendo sofrido e sido insultados em Filipos, como sabeis, sentimo-nos encorajados no nosso Deus a anunciar-vos o Evangelho de Deus no meio de grande luta. 3É que a nossa exortação não se inspirava nem no erro, nem na má fé, nem no engano. 4Como fomos postos à prova por Deus para nos ser confiado o Evangelho, assim falamos, não para agradar aos homens mas a Deus, que põe à prova os nossos corações. 5Por isso, nunca nos apresentámos com palavras de adulação, como sabeis, nem com pretextos de ambição. Deus é testemunha. 6Nem procurámos glória da parte dos homens, nem de vós, nem de outros. 7Quando nos poderíamos impor como apóstolos de Cristo, fomos, antes, afectuosos no meio de vós, como uma mãe que acalenta os seus filhos quando os alimenta. 8Tanta afeição sentíamos por vós, que desejávamos ardentemente partilhar convosco não só o Evangelho de Deus mas a própria vida, tão queridos nos éreis. 9Na verdade, irmãos, recordais-vos dos nossos esforços e das nossas canseiras: trabalhando noite e dia para não sermos um peso a nenhum de vós, anunciámo-vos o Evangelho de Deus. 10Vós sois testemunhas, e Deus também, de como nos comportámos de modo recto, justo e irrepreensível para convosco, os que acreditastes. 11Sabeis que, tal como um pai trata cada um dos seus filhos, também a cada um de vós 12exortámos, encorajámos e advertimos a caminhar de maneira digna de Deus, que vos chama ao seu reino e à sua glória.

Paulo defende-se e justifica-se das acusações feitas pelos filipenses, de que Tessalonicenses terão tido conhecimento, recordando a sua acção no passado, bem conhecida destes últimos.

2. Dimensões do Ethos, Pathos e Logos na argumentação - Probatio

Na sua obra sobre a retórica, Aristóteles distinguiu na argumentação três dimensões: Ethos, Pathos e Logos.

1. A argumentação baseada no carácter (ethos) do orador, ou seja, como o orador ganha a confiança do auditório.

1 Tes 2, 9-10

9Na verdade, irmãos, recordais-vos dos nossos esforços e das nossas canseiras: trabalhando noite e dia para não sermos um peso a nenhum de vós, anunciámo-vos o Evangelho de Deus. 10Vós sois testemunhas, e Deus também, de como nos comportámos de modo recto, justo e irrepreensível para convosco, os que acreditastes.

Paulo apela, na sua argumentação, à memória dos Tessalonicenses, para ganhar a sua confiança, face ao descrédito da sua pessoa promovido pelos filipenses.

2. A argumentação baseada no estado emocional (pathos) do auditório, ou seja, como é que o auditório reagiu.

1 Tes 4, 18

13Irmãos, não queremos deixar-vos na ignorância a respeito dos que faleceram, para não andardes tristes como os outros, que não têm esperança.

1 Tes 4, 18

18Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras.

Paulo, a partir da relação afectiva que tinha com a comunidade, faz apelo ao estado emocional dos Tessalonicenses, para captar a sua adesão ao que quer transmitir.

3. A argumentação baseada no argumento (logos) propriamente dito, ou seja, como está organizada a palavra.

1 Tes 5, 1-11

1Irmãos, quanto aos tempos e aos momentos, não precisais que vos escreva. 2Com efeito, vós próprios sabeis perfeitamente que o Dia do Senhor chega de noite como um ladrão. 3Quando disserem: «Paz e segurança», então se abaterá repentinamente sobre eles a ruína, como as dores de parto sobre a mulher grávida, e não escaparão a isso. 4Mas vós, irmãos, não estais nas trevas, de modo que esse dia vos surpreenda como um ladrão. 5Na verdade, todos vós sois filhos da luz e filhos do dia. Não somos nem da noite nem das trevas. 6Não durmamos, pois, como os outros, mas vigiemos e sejamos sóbrios. 7Os que dormem, dormem de noite e os que se embriagam, embriagam-se de noite. 8Ao contrário, nós que somos do dia, sejamos sóbrios, revestidos com a couraça da fé e da caridade e com o elmo da esperança da salvação. 9De facto, Deus não nos destinou à ira mas à posse da salvação por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo 10que morreu por nós, a fim de que, quer durmamos, quer estejamos vigilantes, com Ele vivamos unidos. 11Consolai-vos, pois, uns aos outros e edificai-vos reciprocamente, como já o fazeis.

Paulo desenvolve a sua argumentação, organizando e elaborando o seu discurso.

ESTRUTURA DESTA PRIMEIRA CARTA AOS CORINTIOS

Esta carta de São Paulo aos Corintios revela-nos que Paulo tinha tomado conhecimento da vida da comunidade de Corinto e dos problemas que enfrentavam, porque primeiro a comunidade de Corinto tinha escrito a Paulo. Isto verificamos em 1 cor 7, 1 – em Paulo começa por dizer “Mas a respeito do que me escrevestes,” significa que a comunidade de corinto escreveu a Paulo.
Paulo escreve com o intuito de corrigir a comunidade de vários aspectos que não estavam bem, mas contudo primeiro tenta estabelecer um boa relação com a comunidade elogiando a comunidade: “Assim, foi confirmado em vós o testemunho de Cristo, de modo que não vos falta graça alguma” (1 cor 1- 6).
Depois de Paulo ter estabelecido um boa relação então começa a responder às perguntas –“Pois, meus irmãos, fui informado pelos da casa de Cloé, que há discórdias entre vós” (7, 1-11).
Nesta Primeira Carta aos Corintios podemos estabelecer quatro polos temáticos, tento uma introdução e uma conclusão.

A INTRODUÇÃO vai dos versiculos 1, 1 a 9 a qual inclui a saudação inicial e a acção de graças.

A PRIMEIRA PARTE vai de 1 Cor 1, 10 a 3, 23 onde Paulo aborda sobre as divisões no seio da comunidade. A comunidade está em risco de se fragmentar.
Os cristão em Corinto são um pequeno grupo e mesmo assim têm várias correntes. Paulo tem o objectovo de unificá-los.
O final desta primeira parte 1 Cor 3, 21-23 – “Portanto, ninguém se glorie nos homens, pois tudo é vosso: 22Paulo, Apolo, Cefas, o mundo, a vida, a morte, o presente ou o futuro. Tudo é vosso. 23Mas vós sois de Cristo e Cristo é de Deus” – Paulo transmite a conclusão de que não deve haver divisões porque todos pertecenmos a Cristo e cristo pertence a Deus.

Na SEGUNDA PARTE - 4, 1 a 6, 11 – Paulo começa de forma provocatória, oponto a sua vida e a de Apolo com a vida que a comunidade leva também moralmente aceitando um caso de insesto. Também Paulo discorda que a comunidade recorra a tribunais pagãos para resolver os seus problemas, diz que devem ser eles mesmos a resolver os seus problemas. Podemos verificar que há um processo de reforço de identidade da comunidade cristã.
Paulo conclui em 1 Cor 6, 11 – “E alguns de vós eram assim. Mas vós cuidastes de vos purificar; fostes santificados, fostes justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito do nosso Deus”. – estes verbos que Paulo utiliza tem uma força social. Trata-se de um novo rosto para a experiencia cristã.

TERCEIRA PARTE: 6, 12 a 11, 1 – Paulo nesta parte dá as respostas às questões concretas e chama a todos a serem seus imitadores: “sede meus imitadores como eu sou de cristo” 1 Cor 11, 1) Cristo é é colocado por Paulo como novo modelo, como novo paradigma. Todos os paradigmas da cidade sãom postos de lado e cristo é o único paradigma.
A cruz passou a ser a gramatica que me explica cristo.

Finalmente na QUARTA PARTE: 11, 2 a 16, 4 – esta quarta parte o tema roda à volta das assembleias liturgicas. Paulo dá soluções para resolver vários problemas que existem no seio da comunidade que faz com que ela esteja dividida quando se reunem em assembleia liturgica. Os principais temas são: o véu das mulheres; a Ceia do Senhor; a ressurreição dos mortos e o tema da colecta.

Depois temos a CONCLUSÃO que vai de 16, 5-24. Paulo aqui conclui dizendo alguns dos seus projectos, entre os quais visitá-los e dando as ultimas recomentações para continuarem firmes na fé 1 Cor 16, 13 “Estai vigilantes, permanecei firmes na fé, sede corajosos e fortes”.
1 CARTA AOS CORÍNTIOS
Segundo os historiadores, Paulo escreveu esta Carta em Éfeso, durante a terceira viagem missionária.
Objectivos:
para remediar os abusos
Superar os conflictos divisões
escândalos
para responder às questões que lhe foram postas por escrito (7,1).
Todas estas preocupações, Paulo teve conhecimento por mensageiros vindos de Corinto (1,11). Estas circunstâncias explicam o carácter não sistemático da Carta, mas sim a preocupação de enfrentar as necessidades e resolver as dúvidas dos seus correspondentes.Ao longo destas páginas, desenha-se o retrato fiel de uma comunidade viva e fervorosa, mas com todos os problemas resultantes da inserção da mensagem cristã numa cultura diferente daquela em que tinha sido anunciada anteriormente. As questões abordadas derivam em grande parte do fenómeno da inculturação do Evangelho em ambiente helenista. Paulo procura esclarecer, mostrando-se firme ao condenar os comportamentos inconciliáveis, mas compreensivo quando a fé não corre perigo.
O conteúdo da 1.ª Carta aos Coríntios pode resumir-se nos seguintes:

Prólogo 1,1-9;
I. Divisões na igreja de Corinto 1,10-4,21;
II. Escândalos na igreja 5,1-6,20;
III. Resposta a questões concretas 7,1-11,1;
IV. A Assembleia Litúrgica 11,2-34;
V. Os carismas 12,1-14,40;
VI. A ressurreição dos mortos 15,1-58;
Epílogo 16,1-24.

Os cristãos de Corinto enfrentaram várias “tentações”:
reduzir a fé cristã a uma sabedoria humana, diversificada à maneira das escolas filosóficas de então (1,10; 3,22);
ceder aos imperativos de uma ética sexual, caracterizada, ora por um excessivo laxismo, ora pelo desprezo da carne, segundo as diferentes correntes filosóficas (5,1-3; 6,12-20; 7,1-40);
Tentação de continuar a observar as práticas cultuais do paganismo (cap. 8-13)
má interpretação das refeições sagradas - sofrer a influência suspeita das refeições sagradas (11,21)
Sofre também a influência frenesim delirante de certos ritos (12,2-3).
Ressurreição dos mortos - dificuldade em conciliar o mistério fundamental da ressurreição dos mortos com as doutrinas dualistas da filosofia grega (cap. 15).
As soluções propostas estão marcadas pelos condicionalismos culturais de então e pelo concreto da vida; mas não se reduzem a mera casuística já ultrapassada, porque o génio de Paulo, mesmo quando desce a questões do dia-a-dia, sabe sempre elevar-se aos princípios fundamentais que lhes asseguram perenidade e oferecer-nos uma teologia aplicada ao concreto da vida cristã.
Daqui o interesse e a actualidade desta Carta: através dela, sentimos ao vivo o pulsar de uma comunidade cristã muito rica, a forte personalidade de Paulo, muito consciente das suas responsabilidades, e a presença constante do Ressuscitado que anima a comunidade e a tudo dá sentido.
FORMAÇÃO DO DISCURSO NAS CARTAS

Aristóteles apresenta-nos a formação do discurso em 4 momentos:
a) Exordio
b) Narrativo (ethos, pathos, logos)
c) Probatio
d) Peroratio


Segundo o professor Doutor Prof. Doutor José Tolentino, podemos saber estes momentos mas temos que saber que o texto é um texto vivo. Este esquema é apenas uma ferramenta.

O EXORDIUM – é introdução ao discurso. A sua função é captar a audiência, despertar, para o que vai ser dito. É fazer as pessoas estarem atentas e ao mesmo tempo numa atitude de compreensão do narrador.
A oratória clássica fala de 4 técnicas :
1 Refrear a auto-promoção do narrador, deve afirmar o direito de afirmar, mas não se deve impor. O orador tem que ter alguma fragilidade para captar o seu auditório.
2 Criticar os seus opositores, é uma coisa que vai interessar;
3 Louvar a audiência mas sem exagerar. O elogio da audiência é importante para a aproximação.
4 Sublinhar o conteúdo de forma atractiva. Vai tratar uma coisa que interessa…

A NARRATIO – constitui na apresentação dos factos que são o pano de fundo. Na narratio temos três pontos fundamentais:
1º ETHOS – como capta o auditório, é muito importante, é a garantia que o orador dá de fiabilidade, para que a sua mensagem seja aceite;
2º PATHOS como é que o auditório reage, ao que o narrador faz para despertar o auditório, é a maneira como o auditório recebe a palavra, o discurso, o entusiasmo, as reacções;
3º LOGOS – a forma como está organizado o discurso.

Muitas vezes o orador entre a NARRATIVO e a PROBATIO faz a DIGRESSIO—que funciona como um parênteses para atrair: exemplo, conta uma anedota para levantar o ânimo da audiência.

Muitas vezes também antes de começar a PROBATIO há A PROPOSITIO. – é o orador dizer a sua tese, o que ele quer dizer, defender. Um discurso bem organizado tem uma ideia. Paulo escreve porque tem uma novidade, tem uma ideia que quer transmitir. A PROPOSITIO é a definição da tese, é muito breve.

PROBATIO – é o momento importante do discurso - é o momento da persuasão, argumentação. Assenta no orador, no auditório, na palavra dita.

Paulo está sempre numa relação pessoal com cada comunidade. Lembra a sua relação, história, louva, confirma, diz palavras só para aquela comunidade. Paulo escreve por uma necessidade. É um meio que ele tem para chegar à comunidade. É uma coisa que hoje falha muito na comunicação da Igreja. Este é um esquema muito realista a propósito da comunicação humana.
As cartas são lugar de reconciliação, porque o conflito já aconteceu.
Na carta aos gálatas Paulo entra a matar. Nós perguntamos como é que eles vão aceitar aquela carta, mas depois Paulo lembra que quando esteve doente foi acolhido pela comunidade e estabelece relação, coloca-se em relação. Paulo é um mestre de relação cristã por excelência. Quando lemos as cartas de Paulo vemos isto.
As cartas de Paulo são um momento poderoso de comunicação teológica. Em Paulo há a preocupação de chegar à assembleia. As comunidades aceitaram estas cartas, porque estas cartas são úteis. É muito importante o orador e a sua relação com a audiência. De Paulo, podemos dizer, que está sempre a pescar o olho à audiência.

A PROBATIO - é o momento da prova, da argumentação, do discurso, daquilo que se propõe. Paulo procura provar. Paulo argumenta. A fé precisa de argumentos, não é uma fé cega.
A fé não é irracional, o nosso Deus não é irracional. Não se chega sem a razão, mas também não se chega só com a razão.
Vemos na carta aos romanos. Paulo não diz as coisas sem as justificar.

PERORATIO - é a conclusão da dissertação. Muitas vezes faz-se antes um apelo à assembleia e depois o discurso final. Segundo Jerome Murphy-O´Connor na PERORATIO o orador recapitula os seus argumentos (enumeratio), incita a audiência a odiar a alternativa refutada (indignatio) e esforça-se por conquistar a piedade dos seus ouvintes (conquestio) .
Paulo, os seus discursos têm uma forma epistolar. Começam com praescriptum e o postscriptum conclusão

Pegar numa carta de Paulo e identificar as dimensões do discurso: em especial: 1º eths – como capta o auditório; 2º pathos como é que o auditório reage, o que o narrador faz para despertar o auditório; 3º logos – a forma como está organizado o discurso

É preciso ganhar consciência do discurso. Como é que o discurso está construído.
Praescriptum
a) Exordium
b) Narrativo (ethos, pathos, logos)
c) Probatio
d) Peroratio
Postscriptum

Esquema retórico aplicado às cartas Paulinas 1 CARTA DE SÃO PAULO AOS CORÍNTIOS
PRAESCRIPTUM
1, 1-3 “Saudação - 1Paulo, chamado por vontade de Deus a ser apóstolo de Cristo Jesus, e Sóstenes, nosso irmão, 2à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados a ser santos, com todos os que em qualquer lugar invocam o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso: 3graça e paz vos sejam dadas da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.”
EXORDIUM 1, 4-9 “4 Dou incessantemente graças ao meu Deus por vós, pela graça de Deus que vos foi concedida em Cristo Jesus. 5Pois nele é que fostes enriquecidos com todos os dons, tanto da palavra como do conhecimento. 6Assim, foi confirmado em vós o testemunho de Cristo, 7de modo que não vos falta graça alguma, a vós que esperais a manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo. 8É Ele também que vos confirmará até ao fim, para que sejais encontrados irrepreensíveis no Dia de Nosso Senhor Jesus Cristo. 9Fiel é Deus, por quem fostes chamados à comunhão com seu Filho, Jesus Cristo Nosso Senhor. ”
PROPOSITIO 1, 10 “10 Peço-vos, irmãos, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que estejais todos de acordo e que não haja divisões entre vós; permanecei unidos num mesmo espírito e num mesmo pensamento.”
NARRATIO 1, 11-17 “11Pois, meus irmãos, fui informado pelos da casa de Cloé, que há discórdias entre vós. 12Refiro-me ao facto de cada um dizer: «Eu sou de Paulo», ou «Eu sou de Apolo», ou «Eu sou de Cefas», ou «Eu sou de Cristo». 13Estará Cristo dividido? Porventura Paulo foi crucificado por vós? Ou fostes baptizados em nome de Paulo? 14Dou graças a Deus por não ter baptizado nenhum de vós, a não ser Cristo e Gaio, 15para que ninguém diga que fostes baptizados em meu nome. 16Baptizei também a família de Estéfanes, mas, além destes, não sei se baptizei mais alguém.
Sabedoria do mundo e loucura da cruz - 17Na verdade, Cristo não me enviou a baptizar, mas a pregar o Evangelho, e sem recorrer à sabedoria da linguagem, para não esvaziar da sua eficácia a cruz de Cristo.”
CONFIRMATIO 1, 18-15, 57“18A linguagem da cruz é certamente loucura para os que se perdem mas, para os que se salvam, para nós, é força de Deus.”, “57Mas sejam dadas graças a Deus que nos dá a vitória por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo.”
PERORATIO 15, 58“58Assim, meus queridos irmãos, sede firmes, inabaláveis, e progredi sempre na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é inútil no Senhor.”
POSTSCRIPTUM
16, 1-24“1Quanto à colecta em favor dos santos, fazei vós também o que ordenei às igrejas da Galácia. 2No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em sua casa, o que tiver conseguido poupar, para que, à minha chegada, não se tenha ainda de fazer a colecta. 3Quando aí chegar, enviarei, munidos de cartas, aqueles que tiverdes escolhido para levar a vossa oferta a Jerusalém. 4E, se convier que eu vá também, farão a viagem comigo.
Projectos e notícias - 5Irei ter convosco depois de passar pela Macedónia, pois a Macedónia, só a pretendo atravessar. 6É possível que me demore entre vós ou até passe aí o Inverno, para que me acompanheis aonde eu tenho de ir. 7Não vos quero ver só de passagem, mas espero permanecer algum tempo convosco, se o Senhor o permitir. 8Entretanto, ficarei em Éfeso até ao Pentecostes, 9pois abriu-se ali uma porta larga e propícia, embora os adversários sejam muitos. 10Se Timóteo aí chegar, velai para que esteja convosco sem receios, porque ele trabalha, como eu, na obra do Senhor. 11Que ninguém o despreze. E preparai-lhe a viagem para voltar em paz para junto de mim, pois estou à sua espera, com os irmãos. 12Quanto ao nosso irmão Apolo, pedi-lhe muito que fosse visitar-vos, com os irmãos, mas ele, de modo algum, quis ir agora; irá quando tiver oportunidade.

Últimas recomendações e saudações - 13Estai vigilantes, permanecei firmes na fé, sede corajosos e fortes. 14Que, entre vós, tudo se faça com amor. 15Mais uma recomendação, irmãos: conheceis os da família de Estéfanes, que são as primícias da Acaia e todos se consagraram ao serviço dos santos. 16Sede serviçais para pessoas como eles e para com todos os que trabalham e sofrem com eles. 17Sinto-me feliz com a chegada de Estéfanes, Fortunato e Arcaico, pois eles supriram a vossa ausência. 18Trouxeram a tranquilidade ao meu espírito e ao vosso. Tende, pois, apreço por tais pessoas. 19Saúdam-vos as igrejas da Ásia. Áquila e Priscila, juntamente com a assembleia que se reúne em sua casa, enviam-vos muitas saudações no Senhor. 20Saúdam-vos todos os irmãos. Saudai-vos uns aos outros com um ósculo santo. 21A saudação é do meu próprio punho: Paulo. 22Se alguém não ama o Senhor, seja anátema! «Vem, Senhor!» 23A graça do Senhor Jesus esteja convosco! 24Eu amo-vos a todos em Cristo Jesus.”
Esquema retórico aplicado às cartas Paulinas 1 CARTA DE SÃO PAULO AOS CORÍNTIOS
PRESCRITO EPISTOLAR 1, 1-3 “Saudação - 1Paulo, chamado por vontade de Deus a ser apóstolo de Cristo Jesus, e Sóstenes, nosso irmão, 2à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados a ser santos, com todos os que em qualquer lugar invocam o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso: 3graça e paz vos sejam dadas da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.”
EXORDIUM 1, 4-9 “4 Dou incessantemente graças ao meu Deus por vós, pela graça de Deus que vos foi concedida em Cristo Jesus. 5Pois nele é que fostes enriquecidos com todos os dons, tanto da palavra como do conhecimento. 6Assim, foi confirmado em vós o testemunho de Cristo, 7de modo que não vos falta graça alguma, a vós que esperais a manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo. 8É Ele também que vos confirmará até ao fim, para que sejais encontrados irrepreensíveis no Dia de Nosso Senhor Jesus Cristo. 9Fiel é Deus, por quem fostes chamados à comunhão com seu Filho, Jesus Cristo Nosso Senhor. ”
PROPOSITIO 1, 10 “10 Peço-vos, irmãos, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que estejais todos de acordo e que não haja divisões entre vós; permanecei unidos num mesmo espírito e num mesmo pensamento.”
NARRATIO 1, 11-17 “11Pois, meus irmãos, fui informado pelos da casa de Cloé, que há discórdias entre vós. 12Refiro-me ao facto de cada um dizer: «Eu sou de Paulo», ou «Eu sou de Apolo», ou «Eu sou de Cefas», ou «Eu sou de Cristo». 13Estará Cristo dividido? Porventura Paulo foi crucificado por vós? Ou fostes baptizados em nome de Paulo? 14Dou graças a Deus por não ter baptizado nenhum de vós, a não ser Crispo e Gaio, 15para que ninguém diga que fostes baptizados em meu nome. 16Baptizei também a família de Estéfanes, mas, além destes, não sei se baptizei mais alguém.
Sabedoria do mundo e loucura da cruz - 17Na verdade, Cristo não me enviou a baptizar, mas a pregar o Evangelho, e sem recorrer à sabedoria da linguagem, para não esvaziar da sua eficácia a cruz de Cristo.”
CONFIRMATIO 1, 18-15, 57“18A linguagem da cruz é certamente loucura para os que se perdem mas, para os que se salvam, para nós, é força de Deus.”, “57Mas sejam dadas graças a Deus que nos dá a vitória por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo.”
PERORATIO 15, 58“58Assim, meus queridos irmãos, sede firmes, inabaláveis, e progredi sempre na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é inútil no Senhor.”
CONCLUSÃO EPISTOLAR 16, 1-24“1Quanto à colecta em favor dos santos, fazei vós também o que ordenei às igrejas da Galácia. 2No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em sua casa, o que tiver conseguido poupar, para que, à minha chegada, não se tenha ainda de fazer a colecta. 3Quando aí chegar, enviarei, munidos de cartas, aqueles que tiverdes escolhido para levar a vossa oferta a Jerusalém. 4E, se convier que eu vá também, farão a viagem comigo.
Projectos e notícias - 5Irei ter convosco depois de passar pela Macedónia, pois a Macedónia, só a pretendo atravessar. 6É possível que me demore entre vós ou até passe aí o Inverno, para que me acompanheis aonde eu tenho de ir. 7Não vos quero ver só de passagem, mas espero permanecer algum tempo convosco, se o Senhor o permitir. 8Entretanto, ficarei em Éfeso até ao Pentecostes, 9pois abriu-se ali uma porta larga e propícia, embora os adversários sejam muitos. 10Se Timóteo aí chegar, velai para que esteja convosco sem receios, porque ele trabalha, como eu, na obra do Senhor. 11Que ninguém o despreze. E preparai-lhe a viagem para voltar em paz para junto de mim, pois estou à sua espera, com os irmãos. 12Quanto ao nosso irmão Apolo, pedi-lhe muito que fosse visitar-vos, com os irmãos, mas ele, de modo algum, quis ir agora; irá quando tiver oportunidade.

Últimas recomendações e saudações - 13Estai vigilantes, permanecei firmes na fé, sede corajosos e fortes. 14Que, entre vós, tudo se faça com amor. 15Mais uma recomendação, irmãos: conheceis os da família de Estéfanes, que são as primícias da Acaia e todos se consagraram ao serviço dos santos. 16Sede serviçais para pessoas como eles e para com todos os que trabalham e sofrem com eles. 17Sinto-me feliz com a chegada de Estéfanes, Fortunato e Arcaico, pois eles supriram a vossa ausência. 18Trouxeram a tranquilidade ao meu espírito e ao vosso. Tende, pois, apreço por tais pessoas. 19Saúdam-vos as igrejas da Ásia. Áquila e Priscila, juntamente com a assembleia que se reúne em sua casa, enviam-vos muitas saudações no Senhor. 20Saúdam-vos todos os irmãos. Saudai-vos uns aos outros com um ósculo santo. 21A saudação é do meu próprio punho: Paulo. 22Se alguém não ama o Senhor, seja anátema! «Vem, Senhor!» 23A graça do Senhor Jesus esteja convosco! 24Eu amo-vos a todos em Cristo Jesus.”

O DIAGNÓSTICO PADRÃO DAS CARTAS PAULINAS

O DIAGNÓSTICO PADRÃO DAS CARTAS PAULINAS

Ao lermos as cartas de Paulo verificamos que em todas existe uma estrutura padrão comum.
Para o diagnóstico padrão das cartas Paulinas verificamos a presença de três pontos comuns nas cartas:

1- ENDEREÇO
Em primeiro lugar temos um endereço, a partir do qual ficamos informados de quem é que manda a carta e a aproximação ao destinatário. O Endereço é altamente significativo, porque se olharmos com atenção vai nos dar o essencial do que será tratado, dá-nos normalmente logo a chave.
Analisando a 1 Carta de Paulo aos coríntios verificamos que Paulo diz-se chamado a ser apóstolo de Cristo por vontade de Deus. Isto mostra que as relações com a comunidade não são assim tão fáceis, esta carta também é uma carta de defesa, isto porque a autoridade de Paulo enquanto apóstolo era posta em causa e por esta motivo, Paulo defende-se dizendo que não é apóstolo por vontade própria, mas por vontade de Deus “1Paulo, chamado por vontade de Deus a ser apóstolo de Cristo Jesus” (1 Cor 1, 1). Logo esta carta é também uma carta de defesa.
Também logo no início da carta, na forma como Paulo fala de si, nós podemos perceber o tom que ele vai utilizar ele vai focar vários aspectos de conflitos e de divisões no seio da comunidade.

2- DESTINATÁRIO DA CARTA
Outro aspecto importante da carta é o destinatário da carta. O destinatário vária, também pode ser uma Igreja. Quando Paulo escolhe, para designar os cristão, a palavra eclésia, temos que ver que Paulo quer libertar a designação dos cristãos da designação judaica. Paulo vai buscar um nome civil. A eclésia era a reunião dos ilustres da cidade. Paulo passa a dar o título eclésia a um grupo que não era a eclésia da cidade. Paulo dedica cartas a cinco igrejas: a 1 e 2 aos tessalónissenses, a 1 e 2 aos coríntios e gálatas – em que Paulo se dirige à Igreja desses lugares.
Quando começamos a ler a carta de São Paulo aos Coríntios, verificámos que esta carta é dirigida à Igreja de Corinto: “à igreja de Deus que está em Corinto…” (1 Cor 1, 2). Este verbo mostra que a Igreja de Deus não se limita a corinto, há uma Igreja de Deus em Corinto. Corinto é uma manifestação concreta da única Igreja de Cristo que está também nos outros lados.
Mas se formos ver as outras cartas verificamos que os destinatários são diversos e não são sempre colectivos. Paulo dirige-se aos diferentes membros da Igreja:

CARTAS DE SÃO PAULO DESTINATÁRIO (S)
Romanos “…a todos os amados de Deus que estão em Roma, chamados a ser santos…” – Rm 1, 7
1ª aos Coríntios “… à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados a ser santos…” – 1 Cor 1, 2
2ª aos Coríntios “à igreja de Deus que está em Corinto, como a todos os santos que estão na Acaia inteira” - - 2 Cor 1, 1
Gálatas “às igrejas da Galácia” – Gl1, 2
Efésios “aos santos e fiéis em Cristo Jesus que estão em Éfeso” – Ef 1, 1
Filipenses “a todos os santos em Cristo Jesus que estão em Filipos, com seus bispos e diáconos” – Fl 1, 1
Colossenses “aos irmãos em Cristo, santos e fiéis, que vivem em Colossos” - Cl 1, 2
1ª Tessalónissenses “à igreja de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo, que está em Tessalónica” – 1 Ts 1, 1
2ª Tessalónissenses “à Igreja de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo, que está em Tessalónica” – 2 Ts 1, 1
1ª a Timóteo “a Timóteo, verdadeiro filho na fé” - 1 Tm 1, 2 – Um só destinatário
2ª a Timóteo “a Timóteo, meu filho querido” - 2 Tm 1, 2 - Um só destinatário
Tito “a Tito, meu verdadeiro filho, pela fé comum” – Tt 1, 4 - Um só destinatário
Filémon “a Filémon, nosso querido colaborador” – Flm 1, 2 - Um só destinatário

2- SAUDAÇÃO INICIAL
Mas esta saudação inicial tem um carácter especial que é diferente da final. Começa-se uma carta saudando o destinatário, isto vê-se em todas as cartas. Diz-se que Paulo é um helenista que adopta os meios utilizados no seu tempo. A teologia de Paulo é muito uma teologia da relação. Só estes começos de carta dizem não só aquilo que é Paulo, tal como é o seu agir. Estas breves saudações de Paulo são um pequeno tratado de teologia, é sempre uma relação teológica, ôntica. As cartas são este grande encontro a partir da qualidade dos seus interlocutores.
As cartas de Paulo indicam o que é um cristão, o que é a identidade cristã, aquilo que é decisivo da identidade cristã.
ACÇÃO DE GRAÇAS
Entre o ENDEREÇO e o CORPO DA CARTA, Paulo coloca normalmente uma ACÇÃO DE GRAÇAS. Ele não tem pressa de chegar ao que ele quer dizer. Há um diminuir do discurso, momentos em que parece de que Paulo não diz nada. Temos que perceber que há uma estratégia de comunicação. Estes momentos funcionam como uma aproximação até ao interior, até aquilo que une.
O modelo simples da ACÇÃO DE GRAÇAS é aquele que tem 6 termos:
1. eu agradeço
2. Agradeço a Deus
3. sempre
4. por vós
5. porque
6. para que

Estes 6 elementos são importantes para compreendermos a ACÇÃO DE GRAÇAS.

1 Coríntios 1, 4-9
Acção de graças - 4Dou(1. Eu dou…) incessantemente(3. Sempre) graças ao meu Deus (2. Agradeço a Deus) por vós (4. Por vós), pela graça de Deus que vos foi concedida em Cristo Jesus. 5Pois nele é que fostes enriquecidos com todos os dons, tanto da palavra como do conhecimento (5. Porque). 6Assim, foi confirmado em vós o testemunho de Cristo, 7de modo que não vos falta graça alguma (6. Para que), a vós que esperais a manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo. 8É Ele também que vos confirmará até ao fim, para que sejais encontrados irrepreensíveis no Dia de Nosso Senhor Jesus Cristo. 9Fiel é Deus, por quem fostes chamados à comunhão com seu Filho, Jesus Cristo Nosso Senhor.


Na maior parte das cartas esta acção de graças complexifica-se um bocado.
Paulo tem que pela palavra, pelo discurso tocar a quem ele se dirige. Ele sabe que pela palavra se pode chegar ao mais importante. Paulo sabe convencer, persuadir ele sabe levar o auditório ao que é mais importante.
Paulo tem um discurso escolar, mas não fica por aí inova, dá novas expressões. A complexidade faz parte de Paulo.
Nos primeiros 4 termos (1 eu agradeço; 2 Agradeço a Deus; 3 sempre; 4 por vós) coloca-se mais 2:
5 Construção participial que torna mais longa a acção de graças.
6 Temos uma construção causal em que Paulo explica a razão do seu elogio, a razão da sua acção e graças.
E por fim temos o 7 remate da acção de graças: que é sempre diferente.
Quando Paulo coloca uma ACÇÃO DE GRAÇAS está a captar para si o auditório, está a cativar o auditório.
Paulo começa com o louvor, porque isso ajuda. Ele não tem pressa a chegar ao assunto essencial. Ele tem consciência que tem diante de si pessoas, mesmo que seja para corrigir algo que está mal na comunidade. Por isso, Paulo, valoriza muito a condição humana, o saber tocar o auditório. Ele nunca dá um louvor que não acredite. O elogio, que Paulo dá, é um elogio sincero. Vamos reparar que os elogios que Paulo dá nas suas diversas cartas são muito diferentes.

CARTAS DE SÃO PAULO ELOGIOS
Romanos “…8Antes de mais, dou graças ao meu Deus por todos vós, por meio de Jesus Cristo, pois a vossa fé é proclamada em todo o mundo.…” – Rm 1, 8
1ª aos Coríntios “…foi confirmado em vós o testemunho de Cristo, 7de modo que não vos falta graça alguma, a vós que esperais a manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo…” – 1 Cor 1, 6-7
2ª aos Coríntios “7E a nossa esperança a respeito de vós é firme, porque sabemos que, assim como sois participantes dos nossos sofrimentos, também o haveis de ser da nossa consolação.” - - 2 Cor 1, 1
Gálatas Não faz elogio começa logo com a repreenção
Efésios “15Por isso, também eu, desde que ouvi falar da vossa fé no Senhor Jesus e do vosso amor para com todos os santos,
16não cesso de dar graças a Deus por vós” – Ef 1, 15-16
Filipenses “É uma oração que faço com alegria, 5por causa da vossa participação no anúncio do Evangelho, desde o primeiro dia até agora.” – Fl 1, 4-5
Colossenses “desde que ouvimos falar da vossa fé em Cristo Jesus e do amor que tendes para com todos os santos,” - Cl 1, 4
1ª Tessalónissenses “a vosso respeito, guardamos na memória a actividade da fé, o esforço da caridade e a constância da esperança, que vêm de Nosso Senhor Jesus Cristo, diante de Deus e nosso Pai, 4conhecendo bem, irmãos amados de Deus, a vossa eleição,” – 1 Ts 1, 3-4
2ª Tessalónissenses “pois que a vossa fé cresce extraordinariamente e a caridade recíproca superabunda em cada um e em todos vós,” – 2 Ts 1, 3
1ª a Timóteo “2a Timóteo, verdadeiro filho na fé” - 1 Tm 1, 2 – Um só destinatário
2ª a Timóteo “a Timóteo, meu filho querido” - 2 Tm 1, 2 - Um só destinatário
Tito “a Tito, meu verdadeiro filho, pela fé comum” – Tt 1, 4 - Um só destinatário
Filémon “a Filémon, nosso querido colaborador” – Flm 1, 2 - Um só destinatário
Segundo o padre Jerome Murphy-O´Connor na sua obra “Paulo escritor de Cartas” este refere que é característica das cartas de Paulo ter, a seguir ao endereço, um parágrafo de acção de graças, o qual introduz o corpo do texto. Mas verificamos, segundo este autor, que algumas cartas de Paulo não têm acção de graças.
CARTA DE PAULO ACÇÃO DE GRAÇAS
Romanos “…8Antes de mais, dou graças ao meu Deus por todos vós, por meio de Jesus Cristo” – Rm 1, 8
1ª aos Coríntios “…Dou incessantemente graças ao meu Deus por vós…” – 1 Cor 1, 4
2ª aos Coríntios “Bendito seja Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação!” - - 2 Cor 1, 3
Gálatas Não há acção de graças
Efésios “3Bendito seja o Deus,
Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo,” – Ef 1, 3
Filipenses “…dou graças ao meu Deus, 4sempre, em toda a minha oração por todos vós” – Fl 1, 3-4
Colossenses “Damos graças a Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo” - Cl 1, 3
1ª Tessalónissenses “Damos continuamente graças a Deus por todos vós” – 1 Ts 1, 2
2ª Tessalónissenses “Devemos dar continuamente graças a Deus por vós, irmãos,” – 2 Ts 1, 3
1ª a Timóteo Não há acção de graças
2ª a Timóteo “Dou graças a Deus,” - 2 Tm 1, 3
Tito Não há acção de graças
Filémon “Dou graças ao meu Deus” – Flm 1, 4 -