3.29.2011

Estrutura retórica da Primeira Epístola aos Coríntios

O Praescriptum: 1Cor 1, 1-2.
O exordium da Carta não aparece de forma clara. Contudo, na acção de graças, aparecem elementos que podem ter as funções do exordium. Assim, Paulo afirma acerca dos de Corinto: «Pois fostes nele cumulados de todas as riquezas, todas as da palavra e todas as do conhecimento. Na verdade, o testemunho de Cristo tornou-se firme em vós, a tal ponto que nenhum dom vos falte, a vós que esperais a Revelação de nosso Senhor Jesus Cristo.» (1Cor 1, 5-7) Estes versículos podem exprimir a função de exordium no sentido de criar uma empatia com o auditório, mais ainda se tomamos em conta a dureza das problemáticas que serão abordadas imediatamente. Há também uma Propositio no versículo dez quando o autor afirma: «Eu vos exorto, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo: guardai a concórdia uns com os outros, de sorte que não haja divisões entre vós; sede estreitamente unidos no mesmo espírito e no mesmo modo de pensar.» (1Cor 1, 10) Contudo, é importante salientar que se Paulo não se detém muito tempo num possível exordium, é pelo carácter tenso das problemáticas da comunidade. A grande problemática que Paulo visa é a divisão: «Com efeito, meus irmãos, pessoas da casa de Cloé me informaram que existem rixas entre vós. Explico-me: cada um de vós diz: “Eu sou de Paulo!”, ou “Eu sou de Apolo!”, ou “Eu sou de Cefas!”, ou “Eu sou de Cristo!”.» (1Cor 1, 11-12) Paulo ataca a doença de forma rápida, sem preâmbulos, pois a ferida está aberta no seio da comunidade.
Assim, a Probatio, aparece introduzida por um forte tom de queixa do Apóstolo: «Cristo estaria dividido? Paulo teria sido crucificado em vosso favor? Ou fostes baptizados em nome de Paulo?» (1Cor 1, 13)
Perante uma comunidade dividida em partidos que procuram legitimidade em diversos apóstolos, a Probatio de Paulo esgrime a sabedoria da Cruz, contraposta a uma mera sabedoria humana, tendencialmente movida para a afirmação individual. (1Cor 1, 17-2, 16)
Antes de examinar os elementos que nos parecem estruturar a Probatio, sublinhamos o ethos do Aapóstolo que nesta Carta também se reveste de apologia pro vita suam. Num primeiro momento, Paulo começa por relembrar o verdadeiro lugar do apóstolo: «Quem é pois Apolo? Quem é Paulo… Servos, por meio dos quais tendes acreditado!, e cada um segundo as graças concedidas pelo Senhor.» (1Cor 3,5) Posteriormente Paulo passa à defesa clara da sua condição apostólica: «Não sou eu livre? Não sou eu apóstolo? Por acaso não vi eu Jesus nosso Senhor? Não sois vós a minha obra no Senhor? Ainda se para outros não sou eu apóstolo, para vós o sou com toda a certeza; pois vós sois o selo do meu apostolado no Senhor! Esta é a minha resposta àqueles que me acusam: Não temos o direito de comer e de beber? Não temos o direito de levar connosco, nas viagens uma mulher cristã, como os outros apóstolos e os irmãos do Senhor e Cefas? […] Todavia não usamos esse direito; ao contrário, tudo suportamos, para não criar obstáculo ao evangelho de Cristo. [….] Da minha parte, porém, não me vali de nenhum desses direitos. Nem escrevo estas coisas no intuito de reclamá-los em meu favor. […] Qual é então o meu salário? É que, pregando o evangelho, eu o prego gratuitamente, sem usar dos direitos que a pregação do evangelho me confere.» (1Cor 9, 1-18) Assim, Paulo lembra à comunidade a relação filial e fraterna existente entre eles, que cria um pathos no auditório, necessário para uma adequada recepção dos difíceis argumentos da Probatio.
A Probatio – de extensa duração – visa como já afirmamos, combater as diversas problemáticas presentes na comunidade em ordem à unidade fraterna. Desta forma Paulo ataca problemas como: Incesto (1Cor 5, 1-13); querelas entre membros resolvidas em instâncias externas à comunidade (1Cor 6, 1-11); fornicação (1Cor 6, 12-20); a virgindade e o matrimónio (1Cor 7, 1-40); casos de consciência referentes à carne das festas públicas e a nova vida da fé (1Cor 8, 1-13; 1Cor 10, 14-31); disposições para as celebrações litúrgicas e a verdadeira fraternidade decorrente destas (1Cor 11, 1-33); carismas como dom para a unidade (1Cor 12, 1-14, 39); a esperança cristã (1Cor 15,1-58).
Por sua parte a Peronatio refere ainda aspectos importantes para a percepção do ministério paulino como a colecta para a Igreja de Jerusalém. (1Cor 16, 1-4) Também é patente a intenção do Apóstolo de visitar e permanecer um tempo no seio da comunidade (vs.5-9); além disto Paulo fala do devido acolhimento a Timóteo por parte da comunidade (vs.10-11); e como facto significativo, a solicitude do Apóstolo para que Apolo visite a comunidade (v.12)
Finalmente, há uma última exortação ao amor fraterno, com menção de membros da comunidade que visitaram Paulo e também com a menção de Áquila e Priscila companheiros da equipa de evangelização de Paulo, e das diversas igrejas. (vs. 13-21)
Postscriptum: 1Cor 16, 22-24

David Jesús Cerdas Vega

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