3.16.2011

Tipos de Retórica presentes na Carta aos Filipenses

Um primeiro tipo de retórica presente na Carta aos Filipenses é a retórica expositiva, esta a encontramos já no primeiro capítulo após os respectivos remitentes, destinatários e saudações. Falamos dos versículos 3 – 11, onde Paulo inicia uma acção de graças, louvando a perseverança da comunidade, salientando entre outros aspectos que se mantiveram unidos a ele, nas prisões que sofreu pelo seu evangelho. Este trecho da carta monstra claramente como Paulo consegue ganhar já aqui e de forma positiva o interesse da audiência. Por outra parte, este versículos não possuem unicamente um carácter funcional, pois denotam um Paulo que se preocupa de forma sincera por reforçar um vínculo já existente, vínculo de carácter profundo e cordial, que nos permite ver o interior do Apóstolo.
O excerto compreendido entre os versículos 12 – 26, mesmo se inicialmente significou uma interrogante, optei por classificá-lo também dentro de uma retórica expositiva. Isto porque a partir da consideração dos benefícios que trouxeram as prisões vividas para o anúncio do Evangelho, Paulo continua louvando a comunidade.
A partir do versículo 27, inicia-se com uma retórica deliberativa, aí Paulo convida a comunidade a perseverar firmes na confissão da fé e na fidelidade ao evangelho recebido. Paulo lembra a comunidade que a perseguição pela fidelidade a Cristo significa para todos eles uma graça da parte de Deus. Sempre com o propósito de levar a comunidade a assentir a determinados aspectos essenciais na autêntica vida cristã, o Apóstolo convida a comunidade a manter-se unida na simplicidade, para isto faz uso do conhecido hino kenótico, estamos já no segundo capítulo da Carta.
Após este hino, continua-se na retórica deliberativa com uma exortação à obediência fiel àquilo que a comunidade recebeu da parte de Paulo: «para vos tornardes irreprováveis e puros, filhos de Deus, sem defeito, no meio de uma geração má e pervertida, no seio da qual brilhais como astros no mundo.» (Fil 2, 15)
Dos versículos 19 – 30 do segundo capítulo da epístola, voltamos a uma retórica expositiva agora sobre as pessoas de Timóteo e Epafrodito que são tidos pelo Apóstolo como insignes colaboradores de missão e sofrimentos.
A partir do terceiro capítulo, Paulo retoma uma retórica de persuasão, alertando a comunidade contra as tendências judaizantes que a circundavam: «Os circundados somos nós, que prestamos culto pelo Espírito de Deus e nos gloriamos em Cristo Jesus e não confiamos na carne.» (Fil 3, 3) No versículo quatro ao versículo seis, dá-se uma mudança para uma retórica forense, que não está em função da defesa directa da pessoa do Apóstolo, mas da própria persuasão que ele já articulava desde as primeiras linhas do capítulo. A finalidade exortativa desta pequena defesa das raízes judaicas do Apóstolo é expressa de forma clara nos seguintes versículos: «Mas o que era para mim lucro eu o tive como perda, por amor de Cristo.» (Fil 3, 8)
Toda a retórica deliberativa estende-se ao longo do terceiro capítulo, o próprio Paulo coloca-se sem nenhum tipo de falsa humildade como modelo de vida cristã para a comunidade: «Sede meus imitadores, irmãos, e observai os que andam segundo o modelo que tendes em nós.» (Fil 3, 18)
O quarto capítulo assinala o momento dos últimos conselhos, que se referem inicialmente a membros concretos da comunidade – Evódia, Síntique e Sízigo – e depois a toda a comunidade. (Fil 4, 1-3) Paulo dá continuação a uma retórica dissuasiva agora orientada para a alegria, na esperança da manifestação final de Cristo e da participação na sua glória, junto com um convite à rectitude de conduta como fruto da vida cristã. (Fil 4, 4-9)
Finalmente, os versículos 10-20, caracterizam um último período de retórica expositiva em favor da comunidade de Filipos, já que Paulo vê na assistência que a comunidade lhe oferece não um benefício próprio, mas um sinal claro do espírito que move a eclesia de Filipos.

David Jesús Cerdas Vega.

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