5.09.2011

O Esquema Retórico na Carta a Filémon

ESQUEMA RETÓRICO DUMA CARTA SEGUNDO ARISTÓTELES:

Praescriptum: como começa a carta.

1. Exordium; a) Refrear a autopromoção do autor, b) criticar os opositores, c) louvar a audiência, mas sem exagerar, d) sublinhar o conteúdo de forma atractiva, aquilo que interessa à audiência.

2. Narratio, se o auditório é conhecido e o tema é conhecido não é preciso alongar-se nesta fase… contudo se o auditório é desconhecido tem que se prolongar nesta fase.

3. Digressio; é um entre parêntesis, para prender a audiência.

4. Propositio, é o que o autor quer dizer, o que quer defender, é a sua tese

5. Probatio, momento importante do discurso, é o momento de argumentar e persuasão dando razões validas da sua posição (ethos), reacção do auditório (pathos) e a palavra proclamada (logos).

6. Peroratio, a conclusão da dissertação.

Postscriptum: despedida


ESQUEMA RETÓRICO NA CARTA A FILÉMON

A carta começa com um præscriptum, dos vers. 1-3. Desde o princípio da carta que Paulo menciona a palavra servo o que oferece logo o mote da situação. Esta é uma das poucas cartas em que Paulo não se apresenta como “servo” ou “apóstolo”. Paulo vai usar dois adjectivos que muito caracterizam Filémon: o “amado” e o “colaborador”. Desde logo Paulo fala do amor, o que contribui para captar a benevolência de Filémon.

Depois disto, temos o exordium, vers. 4-9. Reparamos que existe uma série de repetições de palavras que oferecem um sentido muito significativo. Temos a palavra “amor”, “entranhas”. Mas são as palavras “Jesus” e “Cristo” que são as mais frequentes, pelo que se pode concluir que este se trata de um exordium cristológico. No vers. 9, encontramos novamente Paulo que se adjectiva como prisioneiro e “velho”.

Posto isto, temos a propositio, no vers. 10 encontramos Paulo que pede a Filémon por Onésimo, não como escravo ou um simples servo, mas como “filho”; e um filho que foi gerado em circunstâncias dramáticas. Mais ainda, encontramos nesta carta o uso do elemento surpresa. De facto, no vers. 10, vemos que o nome de Onésimo apenas aparece no fim da frase. Consiste numa técnica que visa fazer o efeito surpresa; se ele aparecesse antes, Filémon já não tomaria mais atenção à forma como Paulo trata Onésimo.

Entre os vers. 11-18 deparamo-nos com a probatio, mas que se encontra penetrada pela narratio. Aqui encontramos a descrição de que Onésimo serve a Paulo na prisão, uma prisão que sofre por causa de Cristo. Mas mais do que esta narratio, é a probatio que é mais importante, as afirmações que Paulo usa para convencer Filémon, está presente no vers. 11, onde encontramos a afirmação de que Onésimo, escravo fugido, se tornara útil para Filémon. Nos vers.15-16 encontramos um argumento teológico, talvez o mais importante. Aqui encontramos a referência a um passivo divino, como se conhece em grego bíblico. De facto, encontramos a referência a que Onésimo foi separado, mas não se diz por quem. Claro que foi por causa de Cristo. Outro argumento, é a fraternidade de Onésimo para com Filémon, agora inserido em Cristo. E prossegue dizendo que este foi afastado por um pouco, para agora ser devolvido para sempre, como irmão.

Finalmente, nos vers. 19-20, encontramos a peroratio, é oportunidade para Paulo apresentar um último argumento. Não apenas menciona claramente a sua influência, o seu punho na circunstância actual, mas também encontramos reiterado o termo “irmão”, usado com Filémon, mas também com Onésimo.

Finalmente, temos o postscriptum, nos vers. 21-25. Aqui encontramos uma última técnica usada por Paulo. Ele declara ter esperança de voltar a encontrar Filémon “em breve”, juntamente com saudações comunitárias, que permitem reforçar o carácter persuasivo. Esta esperança de reencontrar Filémon, deve persuadi-lo a cumprir o que Paulo lhe prescreve sobre Onésimo.

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