5.20.2011

Os cinco critérios de Arbiol.

Para melhor entendermos a comunidade de Coríntio, Arbiol propõe cinco critérios, olhando para primeira carta de São Paulo aos Coríntios (1 Cor 11-14): a visibilidade; o controlo; as fronteiras; as funções/carismas; o género.
  • 1º Critério: a visibilidade. É a possibilidade ou não de serem olhados como estranhos. Apesar da ideia que nós temos da comunidade ser fechada, por incrível que pareça a comunidade admitia estranhos nas assembleias. Mas é preciso ver quem são eles? A visibilidade por um lado é dos estranhos que tem acesso à comunidade, isto porque Paulo pensou numa comunidade aberta no princípio.

Por conseguinte, o dom das línguas é um sinal, não para os crentes, mas para os incrédulos; já a profecia não é para os descrentes, mas para os crentes. Se toda a assembleia estivesse reunida e todos começassem a falar em línguas, os simples ouvintes ou descrentes que entrassem, não diriam que estáveis loucos?

(1 Cor 14, 22-23)

  • 2º Critério: o controlo. Ora, quem controla a comunidade? Que modelos de controlo vemos na primeira carta aos Coríntios? Paulo oscila na primeira carta aos Coríntios entre o colectivo e o individual. Para Paulo o importante é a conjugação destes dois níveis. Ele apenas viu a comunidade no colectivo.

Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá. Pois o templo de Deus é santo, e esse templo sois vós.

(1 Cor 3, 16-17)

  • 3º Critério: as fronteiras. Conseguimos encontrar duas espacialidades, pois de um lado encontramos casas, mas há uma realidade maior que se sobrepõe à própria ideia de casa que é a Igreja de Deus. Eles podiam reunir-se numa casa e o alimento, naturalmente, seria tutelado pelo tutelar daquela casa, mas se assim fosse, não se entenderia como é que cada um deles levava algo seu para partilhar. Assim sendo, era mais normal que eles alugassem uma casa e então cada um levava o alimento para partilhar. Não pode haver fronteiras para Paulo, a comunidade é um espaço transfronteiriço e por isso a comunidade tem a necessidade de encontrar um outro espaço físico.

Quando, pois, vos reunis, não é a ceia do Senhor que comeis, pois cada um se apressa a tomar a sua própria ceia; e enquanto um passa fome, outro fica embriagado. Porventura não tendes casas para comer e beber? Ou desprezais a Igreja de Deus e quereis envergonhar aqueles que nada têm? Que vos direi? Hei-de louvar-vos? Nisto, não vos louvo.

(1 Cor 11, 20-22)

  • 4º Critério: as funções/carismas. Este critério é fundamental nestes capítulos 11-14 da primeira carta aos Coríntios. Quando lemos a Lumen Gentium vemos que está cheia de metáforas de Paulo. As funções na Igreja articulam-se mutuamente ao serviço uma das outras tal como acontece no corpo. Paulo demonstra isto mesmo quando fala da ecclesia da forma como politicamente se falava do estádio. Noutro lado, falando dos dons e carismas (presente no capitulo 12), Paulo valoriza o carisma da profecia. Os cristãos são chamados a receber de Deus uma nova palavra e nesse sentido a valorização que Paulo faz da profecia, é uma valorização da comunidade cristã.

Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo; há diversidade de serviços, mas o Senhor é o mesmo; 6há diversos modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos.

(1 Cor 12, 4-6)

  • 5º Critério: o género. Importa ter presente uma contextualização histórica desta primeira carta aos Coríntios: Paulo escreve à comunidade porque recebeu uma informação daquilo que lá se passava, mas também porque Paulo é convocado pela comunidade para responder a questões problemáticas (1 Cor 11, 2-16). Podemos supor que as mulheres (ou só algumas) recusam cobrir a cabeça com o véu enquanto rezam em comunidade. Ora, Paulo não pretende fazer uma doutrina sobre o estatuto da mulher. Nesta argumentação, Paulo apenas procura intervir em questões temporais. De certa forma, a recusa do véu dá-lhes um protagonismo maior. Pois, o culto era um espaço para a mulher, mas sempre muito controlado.
    Na sinagoga, a mulher podia assistir ao rito sinagogal mas sem qualquer intervenção. É natural que sendo o cristianismo uma sociedade mista e igualitária, é natural que existissem dificuldades que não se sabiam enfrentar. Paulo tenta simplesmente ler a realidade de fundo que é uma realidade que tenta transcender o particularismo, pois procura-se combater o particularismo para lutar pela universalidade.
    28Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem e mulher, porque todos sois um só em Cristo Jesus. (Gl 3, 28)
    O papel da mulher no interior da comunidade paulina é inédito, estando em ruptura com a sociedade. Voltando a 1 Cor 11, 2-16, vemos que a primeira palavra de Paulo é muito positiva, porque a comunidade mantém a tradição. Depois, no versículo 3 temos a tese: «quero que saibais que a cabeça de todo o homem é Cristo, a cabeça da mulher é o homem, e a cabeça de Cristo é Deus.» Temos de saber o que significa «cabeça»? A cabeça é a origem. A cabeça mantém relações recíprocas com o corpo. Seguidamente, dos versículos 4 a 16, temos a argumentação de Paulo. Então, em relação às reacções identitárias, Paulo diz o que é próprio do homem e o que é próprio da mulher. Paulo faz uma exegese de Gn 2: quando se refere à mulher como tirada do homem, lembrando a subordinação da mulher ao homem. Paulo em 1 Cor 11, 10-12 faz um correctivo à comunidade. No versículo 11 vemos a pessoa de Paulo, pois não deixa de dizer o mandamento igualitário: não há homem sem mulher, nem mulher sem homem em Cristo. Paulo nunca deixa de repetir este mandato igualitário. E por fim, Paulo adopta um critério de natureza (1 Cor 11, 13-16): Paulo mantém sempre o argumento teológico, procurando vencer sempre os particularismos. O importante para Paulo é que somos todos iguais em Cristo, depois é que vem o que é secundário, como é o caso do véu. Então, sendo o véu um particularismo, Paulo deixa esta questão para nosso julgamento.

28 de Abril de 2011

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