6.06.2011

1ª Epístola aos Tessalonicenses

Introdução

A epístola aos tessalonicenses nasce durante o percurso da segunda viagem apostólica efectuada por Paulo. Na verdade, como nos atestam os Act 16 , Paulo e Silas, após terem saído da cidade de Filipos, na qual sofreram flagelações e o cárcere, prosseguem em direcção a esta cidade da Macedónia: Tessalónica.

Tessalónica, devido à sua posição estratégica, representava um importante interposto comercial da época. Fundada em 315 pelos macedónios, ela obteve do imperador Augusto o privilégio de ser cidade livre. Isto grarantia-lhe a presença tanto de um sendado (βουλή) próprio como de uma assembleia do povo (δμος), cujos magistrados eram chamado de politarcas (Act 17, 8). Pela sua prosperidade, esta cidade conheceu vários movimentos imigratórios de estrangeiros. Os judeus seriam em número considerável, a ponto de aí possuírem uma sinagoga (Act 17, 2).

Após o aparente insucesso em Filipos, Paulo e Silas chegam a Tessalónica, e, como era habitual nas missões paulinas, estes começam por abordar em primeiro lugar os judeus. Todavia, o sucesso do apóstolo não foi esplendoroso: aí, ele não conseguiu mais que três pregações nas sinagoga. Contudo, alguns dos judeus, mas sobretudo pagãos, se cob«nverteram à nova doutrina, tendo, provavelmente, começado a reunir-se em casa de um tal Jasão.

Porém, e mais uma vez o atesta os Act 17: 5Mas os judeus, cheios de inveja, aliciaram alguns indivíduos da escória do povo, provocaram ajuntamentos e espalharam a agitação pela cidade. Assaltaram a casa de Jasão, à procura de Paulo e Silas, para os levarem à assembleia do povo. 6Não os tendo encontrado, arrastaram Jasão e alguns dos irmãos à presença dos politarcas, gritando: «Aqui estão os homens que alvoroçaram o mundo inteiro, 7e Jasão recebeu-os em sua casa. Todos eles estão em oposição aos éditos de César, pois afirmam que há outro rei, Jesus.»”

O tempo de permanência de Paulo e Silas em Tessalónica foi certamente curto: apenas de dois ou três meses. Pois, com a emergência desta insurreição contra eles, viram-se obrigados a sair da cidade, deixando preocemente a comunidade cristã recentemente fundada.

Prosseguindo a viagem pela Macedónia, passando por Bereia e Atenas, é aquando da sua missão nesta última cidade que Paulo, apreensivo com os recém convertidos de Tessalónica, decide enviar-lhes o seu companheiro Timóteo, a fim de os confirmar na fé e recolher notícias. Já em Corinto, Paulo encontra Timóteo, vindo de Tessalónica e trazendo-lhe novas de Tessalónica. Diz-lhe que os cristãos dessa cidade estavam repleto de afectos por Paulo, firmes na fé, mesmo diante das perseguições. Contudo, dá-lhe conta de que ainda persistem alguns traços de vida pagã, algumas questões morais e dúvidas sobre a sorte dos irmãos falecidos.

Paulo, vendo-se impedido de ir a Tessalónica, resolve escrever-lhes uma carta. É, por conseguinte, nestas circunstâncias que nasce a1ª epístola aos tessalonicences.

A Epístola aos Tessalonicenses

Timóteo dá conta a Paulo do fervor dos fiéis de Tessalónica, pelo que este acabará por declarar que eles são para si a sua alegria e glória (1Tm 2, 19). Porém, Paulo pretende sobretudo defender-se das mentiras que sobre ele dizem os seus inimigos, isto é, de que Paulo não se interesa mais pelos tessalonicenses; ao contrário, Paulo vai procurar dar a conhecer que não teve êxito em ir de novo ter com eles. Mas, conhecendo a fidelidade dos tessalonicenses a cristo, Paulo vai procurar corrigir alguns erros. Neste sentido, pouco depois escreverá uma segunda carta, na qual vai procurar efectuar algumas precisões sobre a questão da parusia.

No que toca agora à questão da autenticidade, esta encontra-se bem apoiada na crítica externa. Ambas as cartas se encontram provavelmente citadas em S. Inácio de Antioquia, certamente n’O Pastor de Hermas, em S. Policarpo, em Marcião (incristas já no cânone do NT). Clemente de Alexandria menciona-as igualmente, bem como S. Ireneu, que diz terem sido recebidas por todas as Igrejas como sendo da autoria do Apóstolo.

Estes dados, juntamente com outros, permitem tirar algumas conclusões: calcula-se que cerca de 90% das palavras usadas em ambas as epístolas aos tessalonicenses encontram-se nas grandes epístolas e naquelas do cativeiro. Enfim, na 1ª epístola encontramos o coração e a alma de S. Paulo: a sua grande afeição pelos irmãos que ganhou em Cristo, a sua delicada confiança na sua fidelidade, e já se encontra uma consciência dos seus direitos de apóstolo.

Análise do texto

Depois do endereço e da saudação (1,1) abre-se uma longa acção de graças pelos frutosda pregação evangélica. O apóstolo acrescenta ainda uma refutação contra as calúnias que os judeus lançaram contra ele entre os membros da comunidade.

A força do Espírito operou entre os tessalonicenses uma conversão que todo o mundo de então admira (1, 2-10).

Paulo menciona que os sofrimentos que os tessalonicenses sofrem, sofrem-nos por causados frutos de salvação, tal como os cristãos da Palestina sofreram às mãos dos judeus. A sua ira estendeu-se a Paulo e aos seus companheiros, mas igualmente aos povos de então, onde muitas vezes constituíam um obstáculo à evangelização. Por esta razão é que Paulo se vê impedido de se juntar aos tessalonicenses (1Tm2, 17ss), e decide enviar Tomóteo, que regressa com boas notícias (1Tm 3, 1-13).

O texto da carta prossegue com algumas exortações à fidelidade que Paulo faz à comunidade (4, 1—5,22): que os irmãos caminhem cada vez mais perfeitamente no amor de Deus; que, em oposição aos pagãos, perseverem na castidade (4, 3-8); que guardem a caridade fraterna 9-10a; que trabalhem com as próprias mãos (10b-12).

A respeito da sorte dos irmãos defuntos, Paulo recorda uma palavra do Senhor: de que um dia estaremos, para sempre, com o Senhor (13-18). Sabendo Paulo que este dia virá subitamente, exorta os tessalonicenses a permanecerem vigilantes e unidos a Cristo pela fé, esperança e caridade. Este consiste no verdadeiro meio de receber a salvação (5 1-11). O apóstolo dá, por fim, alguns conselhos para a vida da comunidade, sobretudo no que toca as manifestações carismáticas (12-22).

A epístola termina com a afirmação dos seus desejos e saudações habituais (5, 23-28).

Conteúdos doutrinais

a) Apostolado de Paulo numa comunidade gentílica: Paulo tema a consciência de ser apóstolo de Deus e sucessor dos profetas. Sabe-se também escolhido por Deus para anunciar a boa nova (1Tm2,4), que ela faz com uma segurança que vem de Deus (1Tm2,2). Ele procura umprir este propósito, sem buscar a glória humana mas para agradar a Deus (1Tm2,4b;2,6).

Na pregação ao tessalonicenses, ele não os ridiculariza pelo seu culto aos deuses sem vida, nem os coloca sob os judeus; ao invés, ele no facto de que Cristo oferece a salvação a todos, tanto judeus como pagãos.

A esperança do reino glorioso de Deus é a base da moral que Paulo prega aos anciãos convertidos ao cristianismo. Porque Paulo não conseguiu completar a foemação cristã dos tessalonicenses, ele reconhece que padecerão de tentações de voltar aos costumes pagãos (4,3-12), e a uma falsa interpretação da pregação messiânica.

Pos esta razão, duas linhas fundamentais emergem já desta primeira pregação, e que serão posteriormente desenvolvidas nas grndes epístolas: 1) A salvação de Deus foi dada por meio de Cristo àqueles que n’Ele creram (1Tm2,13; 4,14); 2) Eles devem receber a salvação de Deus com submissão à autoridade do apóstolo e na fidelidade às tradições que remontam ao Senhor Jesus.

b) A escatologia: Consiste na mensagem mais relevante das epístolas aos tessalonicenses. Cristo, ressuscitado por Deus, arrancará da ira do mundo futuro aqueles que se voltarem para Ele; Deus reunirá no cortejo final os que se deixaram conduzir pela fé e que morreram em Cristo (1,9;4,14-16).

Seguindo a tradição profética, Paulo fala do dia do Senhor, no final da história. Os tessalonicenses devem, pois, preprar-se como filhos da luz (5,5; 5,10ss; 2,14ss).

c) Esperança da parusia: Ao lado das forças do mal, Paulo apresenta o bem escatológico de todos aqueles que são consuzidos pela fé, pela caridade e pela esperança, em vista do dia do Senhor (5,8). Seguindo uma representação imaginada, ele descreve (4,15-17)o destino glorioso dos eleitos de Deus. Estas imagens tradicionais servem para exprimir uma ponto essencial da mensagem cristã: que Cristo glorioso virá, no dia do Senhor, de forma súbita, como um ladrão na noite (5,2).

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