6.04.2011

Estudo da Carta aos Filipenses ( continuação)

Temas abordados na Carta

Apostolo sofredor

Através da imagem de Cristo crucificado, Paulo adquire a força necessária (Fl 1,21.23; 3,7-12) para aguentar a sua prisão, esperando possivelmente a condenação à morte (Fl 1,21;2,17).

Com a ajuda dos Filipenses na difusão do Evangelho (Fl 1,5.7), estes também partilham a dor e sofrimento de Paulo: “Porque, a vós foi dada a graça de assim actuardes por Cristo: não só a de nele acreditar, mas também a de sofrer por Ele...” (Fl 1,29).

A comunidade acompanha Paulo no amor e no sofrimento. Assim, Paulo escreve dando ênfase à “participação” quer na pregação do Evangelho, quer nas dificuldades e dores que decorrem na sua pregação (Fl 1,5.7;4,14.15).

Apesar de sofrer dificuldades, Paulo não visa a atenção para si, mas alegra-se pelo seu exemplo encorajar outros pregadores da Palavra, sendo que as perseguições e dores, são um estimulo para continuar a sua missão (1,14).

Mesmo estando em cativeiro, Paulo consegue superar as suas dores e sofrimentos, destacando a importância da difusão da Palavra, que esta seja difundida de qualquer maneira, exclamando: “Mas que importa? Desde que, de qualquer modo, com segundas intenções ou com verdade, Cristo seja anunciado. É com isso que me alegro.”. Nas situações de sofrimento Paulo encontra alivio na pessoa de Jesus Cristo, sendo por ele que tudo sofre “Pelo contrario: com todo o desassombro, agora como sempre, Cristo será engrandecido no meu corpo, quer pela vida quer pela morte. É que para mim, viver é Cristo e morrer, um lucro.” (Fl 1,20-21).

Paulo refere os seus adversários em Fl 3,2-4,1, no entanto diferentes de Fl 1,15-19. Em Fl 3,2.4.18.19 Paulo refere-se aos seus adversários como sendo judaizantes, uma “sombra ameaçadora”, os quais querem impor aos fiéis as obserâncias judaicas, como as práticas alimentares e a circuncisão, esquecendo o verdadeiro valor redentor da cruz, “É que muitos – de quem várias vezes vos falei e agora até falo a chorar – são, no seu procedimento, inimigos da cruz de Cristo: o seu fim é a perdição, o seu Deus é o ventre, e gloriam-se da sua vergonha – esses que estão presos às coisas da terra.” (Fl 3, 19-20).

Paulo referindo-se ainda aos judaizantes, dando o seu exemplo explica que o que otrora constituía motivo de glória quando professava a religião Judaica, agora considera “uma perda” comparando com o grande conhecimento de Cristo (Fl 3,8). Paulo vais mais longe, pois anseia por participar mais nos sofrimentos de Cristo, a fim de conhecer melhor “o poder de sua ressurreição”. As suas situações de cativeiro e sofrimento, tornam-se para o Apóstolo motivo de elevação mística.

Paulo, ultrapassando cada dificuldade, procura alcançar “o prémio da vocação do alto, que vem de Deus em Cristo Jesus” (Fl 3, 14).

Os Ministérios

Segundo o modelo de outras Igrejas fundadas por Paulo, a comunidade de Filipos é fundada e organizada, sendo que Paulo destaca dois ministérios: bispos e diáconos (Fl 1,1).

O bispo, é aquele que cuida, inspecciona, que está encarregado de dirigir a comunidade (At 20,28), tratando-se de um cargo exclusivo das Igrejas Paulinas. Na carta, o termo encontra-se no plural, o que leva a crer que fosse uma tarefa partilhada por muitos, nada como o cargo de bispo de hoje em dia.

O termo diácono, também indica uma tarefa geral de assistência ou serviço, podendo ser o primeiro alicerce para o ministério diaconal dos dias de hoje.

A referência a estes termos realça a organização de cada comunidade em redor dos seus responsáveis, como se apresenta também a Igreja de Tessalónica, em 1 Ts 5,12: “ Pedimo-vos, irmãos, que reconheceis aqueles que se afadigam entre vós, que vos governam no Senhor e que vos instruem “.

Apesar da luta contra os judaizantes, a comunidade, estruturada em redor dos seus dirigentes, não apresenta grandes problemas internos. Paulo apela à unidade (Fl 2,2-4; 4, 2-3) e à perfeição (2,12-16).

A Escatologia

Nesta carta, Paulo apresenta uma escatologia individual que se realiza logo após a morte (1,21-23) e escatologia final (3,20-21).

Na prisão Paulo enfrenta um dilema: “Estou pressionado dos dois lados: tenho o desejo de partir e estar com Cristo, já que isso seria muitíssimo melhor, mas continuar a viver é mais necessário por causa de vós.” (Fl 1, 23-24). O “estar com Cristo” apenas se realiza no momento da morte, sendo o ser humano na sua totalidade de pessoa, que vai gozar da bem-aventurança eterna, não só da alma.

Paulo relembra que “É que, para nós, a cidade a que pertencemos está nos céus, de onde certamente esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo.” (Fl 2,30).

Paulo considera que se na própria morte todo o ser humano entra na glória de Deus, de certa forma pode-se falar já em ressurreição do corpo, sendo o ser humano uma unidade indivisível.

O interesse escatológico encontra-se muito presente na carta, onde Paulo menciona “o dia do Senhor” em Fl 1,6; 2,16 exortando os Filipenses a se alegrarem pois “o Senhor está próximo” (Fl 4,5).

A Cristologia

Ocorrem várias formulas cristológicas ao longo de toda a Carta: todos os cristão de Filipos estão “em Cristo Jesus” (Fl 1,1;2,5;4,7.21), as prisões de Paulo tornam-se conhecidas “em Cristo” (Fl 1,13;2,1), o seu comportamento encoraja “no Senhor” os irmão (1,14;2,24;3,1;4,4), Paulo pretende enviar Timóteo a Filipos, para ter alegria “no Senhor Jesus” (2,19). Através destas expressões, percebe-se que o Apóstolo vive constantemente em Cristo, e que Cristo representa a base para o desenvolvimento de uma vida cristã.

Em Fl 2, 6-11, Paulo apresenta o ponto máximo do desenvolvimento da cristologia da carta. Este hino, é colocado num contexto parenético de uma exortação moral (Fl 2, 1-5). Paulo pede aos Filipenses que vivam de acordo, numa só alma, num só pensamento, nada fazendo por competição e vanglória, tendo sentimentos de quem vive “ em Cristo”, levando o exemplo do próprio Jesus.

Poderá dividir-se o hino em dois momentos v.6-8 e v.9-11, sendo que na primeira parte, Cristo é o sujeito da acção, que aceita o sofrimento de si mesmo até à morte na cruz; na segunda parte, Deus-pai apresenta uma figura de destaque, que sobreexalta o Cristo crucificado.

Considera-se que o Hino, poderá ser pré-paulino, devido à sua linguagem um pouco diferente de Paulo, sendo que a sua cristologia também se apresenta um pouco arcaica, de cunho judeo-cristão. Está elaborado em torno de uma técnica de contraposição, realçando o despojamento de Jesus e sua glorificação. Poderá ter sido um Hino aclamado na Igreja antiga, em celebração de baptismo ou eucaristia.

Através do Hino proclama-se a fé em Cristo homem-Deus, Senhor e Salvador da humanidade, no entanto não está presente, explicitamente, a preexistência de Cristo, mas uma antítese entre a encarnação e exaltação. A encarnação de Cristo é referida a categoria de “exaltação”.

Hino:

6Ele, que é de condição divina,

não considerou como uma usurpação ser igual

a Deus;

7no entanto, esvaziou-se a si mesmo,

tomando a condição de servo.

Tornando-se semelhante aos homens

e sendo, ao manifestar-se, identificado como

homem,

8rebaixou-se a si mesmo,

tornando-se obediente até à morte

e morte de cruz.

9Por isso mesmo é que Deus o elevou acima de

tudo

e lhe concedeu o nome

que está acima de todo o nome,

10para que, ao nome de Jesus,

se dobrem todos os joelhos,

os dos seres que estao no céu,

na terra e debaixo da terra;

11e toda a lingua proclame:

“Jesus Cristo é o Senhor!”

para glória de Deus Pai.

Analisando pormenorizadamente:

“Ele, que é de condição divina,” refere-se a Jesus como assumindo traços de Deus, e que nele se manifesta a realidade divina, sendo que “ser igual a Deus” não se refere à natureza e condição divina de Jesus, à qual não pode renunciar “esvaziou-se a si mesmo”, mas sim uma revelação gloriosa, da qual o Filho gozava antes da encarnação.

Assim, embora Cristo se pudesse manifestar externamente como Deus, assumindo uma aparência correspondente à sua dignidade, não considerou a sua igualdade com Deus, um bem a utilizar em sua vantagem. Jesus assume uma condição humana, com a sua pobreza e fragilidade, “no entanto, esvaziou-se a si mesmo”.

“tomando a condição de servo” Jesus coloca-se assim, numa atitude total de serviço, sendo o servo aquele que não tem direitos pessoais. Clara antitese com a verdadeira realidade de “Senhor”, alcançada por Jesus após a sua glorificação (v.11). Jesus Cristo coloca-se numa posição oposta à sua realidade divina.

“tornando-se obediente até à morte” , uma obediência não perante o Pai, mas uma total disponibilidade de Jesus nas mãos dos seus adversários, até à sua morte na cruz. A sua morte torna-se um motivo de exaltação. “Por isso mesmo é que Deus o elevou acima de tudo”, ocorre uma ligação com a sua situação da vida terrena e o seu estado glorioso, alcançado por meio de sua morte.

Graças à sua total entrega, Deus o agraciou com “e lhe concedeu o nome que está acima de todo o nome”. Consiste numa dignidade divina que excede todo o titulo humano, ao qual Cristo renunciou durante a sua vida terrena. Sendo esse nome, o nome de “Senhor”. Assim Jesus recebe a homenagem de todos os seres, que se ajoelham perante o glorificado, “e lhe concedeu o nome que está acima de todo o nome, para que, ao nome de Jesus, se dobrem todos os joelhos, os dos seres que estão no céu, na terra e debaixo da terra” .

A proclamação de “toda a lingua” de que Jesus é o Senhor, demonstra a fé de cada ser racional, representando o reconhecimento do ser perante o que Jesus Cristo, o Salvador fez em beneficio de toda a humanidade.

Assim, Jesus Cristo após a sua encarnação, morte e ressurreição é a glória de Deus Pai, ““Jesus Cristo é o Senhor!”para glória de Deus Pai.”.

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