6.03.2011

Análise da Carta aos Filipenses (Parte II)

4. Propositio.

A Propositio surge-nos na carta de São Paulo aos Filipenses em Fl 1, 27 – 3, 1. A tese que Paulo sustenta é a da unidade da comunidade de Filipos. Paulo apela a que os Filipenses manifestem um comportamento digno do anúncio do Evangelho e que esse comportamento seja particularmente irrepreensível face aos potenciais adversários (Fl 1, 27-30). Contudo, a exigência deste comportamento não deve destruir a unidade da comunidade, nem deverá admitir divisões, jogos de interesses, ambições e vaidades (Fl 2, 1-4).
Para além do apelo à unidade por parte do apóstolo na construção da comunidade de Filipos, Paulo faz ainda outro apelo à humildade, apostando no seu impacto estruturante nas relações internas da comunidade. E este apelo surge pelo conhecido hino cristológico da kenosis do Filho de Deus. Ora, a humildade que cada um deve ter para com os outros, é uma postura que caracteriza a configuração e a identidade do cristão. Este hino também se dirige a Paulo, como que com isto desvalorizasse a sua própria pessoa como modelo para a comunidade, ou seja, mesmo que o apóstolo não lhes servisse de modelo, teriam um outro ainda maior e absolutamente inegável – o próprio Filho de Deus, principal vértice da fé (Fl 2, 5-11).
O trunfo muito poderoso que a comunidade tem ao seu dispor é que o trabalho de evangelização e da salvação da comunidade não se faz com «murmurações», nem «discussões», pois essa não é a atitude mais digna de quem é chamado a ser santo e é, de facto, filho de Deus. A comunidade de Filipos ao estar a conservar essa dignidade e unidade na comunidade estará a trabalhar para o anúncio do Evangelho e para a sua própria salvação, até ao dia da vinda de Cristo.

5. Probatio.

Ora, em Fl 3, 2-21 temos a probatio. Aqui vemos que argumentos sustentam a tese paulina da unidade e consequentemente a ameaça dessa unidade?
Em Fl 3, 2 aparece-nos o primeiro argumento: «cuidado com esses cães, cuidado com esses maus trabalhadores, cuidado com os falsos circuncisos!». Portanto, num só versículo temos traçada a questão dos partidários da circuncisão que estão dentro da comunidade; aqueles que prestam culto a Deus, entendendo que para se ser cristão era impensável que não se seguisse os costumes de Moisés.
Todavia, com este argumento Paulo contrapõe com um segundo, em Fl 3, 4-15, onde procura mostrar que a circuncisão é irrelevante para o culto a Deus. Para Paulo viver é Cristo e como tal só Cristo importa, pois com Ele surgiu uma nova realidade e que o que estava para trás, já não tem qualquer importância. A ressurreição de Jesus e a fé na sua própria ressurreição, que é expressão da comunhão com Cristo, é o decisivo na vida de Paulo. Em Fl 3, 17-20, o apóstolo reforçará este argumento, apresentando-se como modelo para a comunidade e lembrando-a que a sua pátria está no céu. Com isto, Paulo recorda à comunidade que são peregrinos sobre a terra rumo à pátria celeste. E por fim, em relação à questão da carne, ela como será transfigurada por Cristo (Fl 3, 21), não deve ser motivo de preocupação para a comunidade de Filipos.

6. Peroratio.

Quase a terminar a carta, temos a peroratio (Fl 4, 1-20). A peroratio traz-nos como que uma espécie de remate final ou uma exortação à comunidade na vivência dos sentimentos que o apóstolo aludia na sua tese e que são a garantia da unidade e da salvação para o dia da vinda de Jesus (Fl 4, 8-9). Após esta síntese conclusiva, Paulo trata de questões de ordem prática, agradecendo à comunidade a colecta que esta lhe enviou por intermédio de Epafrodito (Fl 4, 10-20). E é de notar, que são profundos os laços de amizade que unem Paulo a esta comunidade de Filipos a julgar pelo que escreve em Fl 4, 15-16: «Vós bem o sabeis, filipenses: no início da pregação do Evangelho, quando saí da Macedónia, nenhuma outra igreja esteve em comunhão comigo na permuta de dar e receber, a não ser apenas vós: em Tessalónica e por duas vezes me enviastes socorro para as minhas necessidades.»

7. Postscriptum.

Por ultimo, a carta aos Filipenses termina como o postscriptum, que está presente em Fl 4, 21-23. No postscriptum percebemos que Paulo não está sozinho na prisão e que alguns irmãos estão com ele.

3 de Junho de 2011

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