6.05.2011

O DIAGNÓSTICO PADRÃO DAS CARTAS PAULINAS

O DIAGNÓSTICO PADRÃO DAS CARTAS PAULINAS

Ao lermos as cartas de Paulo verificamos que em todas existe uma estrutura padrão comum.
Para o diagnóstico padrão das cartas Paulinas verificamos a presença de três pontos comuns nas cartas:

1- ENDEREÇO
Em primeiro lugar temos um endereço, a partir do qual ficamos informados de quem é que manda a carta e a aproximação ao destinatário. O Endereço é altamente significativo, porque se olharmos com atenção vai nos dar o essencial do que será tratado, dá-nos normalmente logo a chave.
Analisando a 1 Carta de Paulo aos coríntios verificamos que Paulo diz-se chamado a ser apóstolo de Cristo por vontade de Deus. Isto mostra que as relações com a comunidade não são assim tão fáceis, esta carta também é uma carta de defesa, isto porque a autoridade de Paulo enquanto apóstolo era posta em causa e por esta motivo, Paulo defende-se dizendo que não é apóstolo por vontade própria, mas por vontade de Deus “1Paulo, chamado por vontade de Deus a ser apóstolo de Cristo Jesus” (1 Cor 1, 1). Logo esta carta é também uma carta de defesa.
Também logo no início da carta, na forma como Paulo fala de si, nós podemos perceber o tom que ele vai utilizar ele vai focar vários aspectos de conflitos e de divisões no seio da comunidade.

2- DESTINATÁRIO DA CARTA
Outro aspecto importante da carta é o destinatário da carta. O destinatário vária, também pode ser uma Igreja. Quando Paulo escolhe, para designar os cristão, a palavra eclésia, temos que ver que Paulo quer libertar a designação dos cristãos da designação judaica. Paulo vai buscar um nome civil. A eclésia era a reunião dos ilustres da cidade. Paulo passa a dar o título eclésia a um grupo que não era a eclésia da cidade. Paulo dedica cartas a cinco igrejas: a 1 e 2 aos tessalónissenses, a 1 e 2 aos coríntios e gálatas – em que Paulo se dirige à Igreja desses lugares.
Quando começamos a ler a carta de São Paulo aos Coríntios, verificámos que esta carta é dirigida à Igreja de Corinto: “à igreja de Deus que está em Corinto…” (1 Cor 1, 2). Este verbo mostra que a Igreja de Deus não se limita a corinto, há uma Igreja de Deus em Corinto. Corinto é uma manifestação concreta da única Igreja de Cristo que está também nos outros lados.
Mas se formos ver as outras cartas verificamos que os destinatários são diversos e não são sempre colectivos. Paulo dirige-se aos diferentes membros da Igreja:

CARTAS DE SÃO PAULO DESTINATÁRIO (S)
Romanos “…a todos os amados de Deus que estão em Roma, chamados a ser santos…” – Rm 1, 7
1ª aos Coríntios “… à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados a ser santos…” – 1 Cor 1, 2
2ª aos Coríntios “à igreja de Deus que está em Corinto, como a todos os santos que estão na Acaia inteira” - - 2 Cor 1, 1
Gálatas “às igrejas da Galácia” – Gl1, 2
Efésios “aos santos e fiéis em Cristo Jesus que estão em Éfeso” – Ef 1, 1
Filipenses “a todos os santos em Cristo Jesus que estão em Filipos, com seus bispos e diáconos” – Fl 1, 1
Colossenses “aos irmãos em Cristo, santos e fiéis, que vivem em Colossos” - Cl 1, 2
1ª Tessalónissenses “à igreja de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo, que está em Tessalónica” – 1 Ts 1, 1
2ª Tessalónissenses “à Igreja de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo, que está em Tessalónica” – 2 Ts 1, 1
1ª a Timóteo “a Timóteo, verdadeiro filho na fé” - 1 Tm 1, 2 – Um só destinatário
2ª a Timóteo “a Timóteo, meu filho querido” - 2 Tm 1, 2 - Um só destinatário
Tito “a Tito, meu verdadeiro filho, pela fé comum” – Tt 1, 4 - Um só destinatário
Filémon “a Filémon, nosso querido colaborador” – Flm 1, 2 - Um só destinatário

2- SAUDAÇÃO INICIAL
Mas esta saudação inicial tem um carácter especial que é diferente da final. Começa-se uma carta saudando o destinatário, isto vê-se em todas as cartas. Diz-se que Paulo é um helenista que adopta os meios utilizados no seu tempo. A teologia de Paulo é muito uma teologia da relação. Só estes começos de carta dizem não só aquilo que é Paulo, tal como é o seu agir. Estas breves saudações de Paulo são um pequeno tratado de teologia, é sempre uma relação teológica, ôntica. As cartas são este grande encontro a partir da qualidade dos seus interlocutores.
As cartas de Paulo indicam o que é um cristão, o que é a identidade cristã, aquilo que é decisivo da identidade cristã.
ACÇÃO DE GRAÇAS
Entre o ENDEREÇO e o CORPO DA CARTA, Paulo coloca normalmente uma ACÇÃO DE GRAÇAS. Ele não tem pressa de chegar ao que ele quer dizer. Há um diminuir do discurso, momentos em que parece de que Paulo não diz nada. Temos que perceber que há uma estratégia de comunicação. Estes momentos funcionam como uma aproximação até ao interior, até aquilo que une.
O modelo simples da ACÇÃO DE GRAÇAS é aquele que tem 6 termos:
1. eu agradeço
2. Agradeço a Deus
3. sempre
4. por vós
5. porque
6. para que

Estes 6 elementos são importantes para compreendermos a ACÇÃO DE GRAÇAS.

1 Coríntios 1, 4-9
Acção de graças - 4Dou(1. Eu dou…) incessantemente(3. Sempre) graças ao meu Deus (2. Agradeço a Deus) por vós (4. Por vós), pela graça de Deus que vos foi concedida em Cristo Jesus. 5Pois nele é que fostes enriquecidos com todos os dons, tanto da palavra como do conhecimento (5. Porque). 6Assim, foi confirmado em vós o testemunho de Cristo, 7de modo que não vos falta graça alguma (6. Para que), a vós que esperais a manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo. 8É Ele também que vos confirmará até ao fim, para que sejais encontrados irrepreensíveis no Dia de Nosso Senhor Jesus Cristo. 9Fiel é Deus, por quem fostes chamados à comunhão com seu Filho, Jesus Cristo Nosso Senhor.


Na maior parte das cartas esta acção de graças complexifica-se um bocado.
Paulo tem que pela palavra, pelo discurso tocar a quem ele se dirige. Ele sabe que pela palavra se pode chegar ao mais importante. Paulo sabe convencer, persuadir ele sabe levar o auditório ao que é mais importante.
Paulo tem um discurso escolar, mas não fica por aí inova, dá novas expressões. A complexidade faz parte de Paulo.
Nos primeiros 4 termos (1 eu agradeço; 2 Agradeço a Deus; 3 sempre; 4 por vós) coloca-se mais 2:
5 Construção participial que torna mais longa a acção de graças.
6 Temos uma construção causal em que Paulo explica a razão do seu elogio, a razão da sua acção e graças.
E por fim temos o 7 remate da acção de graças: que é sempre diferente.
Quando Paulo coloca uma ACÇÃO DE GRAÇAS está a captar para si o auditório, está a cativar o auditório.
Paulo começa com o louvor, porque isso ajuda. Ele não tem pressa a chegar ao assunto essencial. Ele tem consciência que tem diante de si pessoas, mesmo que seja para corrigir algo que está mal na comunidade. Por isso, Paulo, valoriza muito a condição humana, o saber tocar o auditório. Ele nunca dá um louvor que não acredite. O elogio, que Paulo dá, é um elogio sincero. Vamos reparar que os elogios que Paulo dá nas suas diversas cartas são muito diferentes.

CARTAS DE SÃO PAULO ELOGIOS
Romanos “…8Antes de mais, dou graças ao meu Deus por todos vós, por meio de Jesus Cristo, pois a vossa fé é proclamada em todo o mundo.…” – Rm 1, 8
1ª aos Coríntios “…foi confirmado em vós o testemunho de Cristo, 7de modo que não vos falta graça alguma, a vós que esperais a manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo…” – 1 Cor 1, 6-7
2ª aos Coríntios “7E a nossa esperança a respeito de vós é firme, porque sabemos que, assim como sois participantes dos nossos sofrimentos, também o haveis de ser da nossa consolação.” - - 2 Cor 1, 1
Gálatas Não faz elogio começa logo com a repreenção
Efésios “15Por isso, também eu, desde que ouvi falar da vossa fé no Senhor Jesus e do vosso amor para com todos os santos,
16não cesso de dar graças a Deus por vós” – Ef 1, 15-16
Filipenses “É uma oração que faço com alegria, 5por causa da vossa participação no anúncio do Evangelho, desde o primeiro dia até agora.” – Fl 1, 4-5
Colossenses “desde que ouvimos falar da vossa fé em Cristo Jesus e do amor que tendes para com todos os santos,” - Cl 1, 4
1ª Tessalónissenses “a vosso respeito, guardamos na memória a actividade da fé, o esforço da caridade e a constância da esperança, que vêm de Nosso Senhor Jesus Cristo, diante de Deus e nosso Pai, 4conhecendo bem, irmãos amados de Deus, a vossa eleição,” – 1 Ts 1, 3-4
2ª Tessalónissenses “pois que a vossa fé cresce extraordinariamente e a caridade recíproca superabunda em cada um e em todos vós,” – 2 Ts 1, 3
1ª a Timóteo “2a Timóteo, verdadeiro filho na fé” - 1 Tm 1, 2 – Um só destinatário
2ª a Timóteo “a Timóteo, meu filho querido” - 2 Tm 1, 2 - Um só destinatário
Tito “a Tito, meu verdadeiro filho, pela fé comum” – Tt 1, 4 - Um só destinatário
Filémon “a Filémon, nosso querido colaborador” – Flm 1, 2 - Um só destinatário
Segundo o padre Jerome Murphy-O´Connor na sua obra “Paulo escritor de Cartas” este refere que é característica das cartas de Paulo ter, a seguir ao endereço, um parágrafo de acção de graças, o qual introduz o corpo do texto. Mas verificamos, segundo este autor, que algumas cartas de Paulo não têm acção de graças.
CARTA DE PAULO ACÇÃO DE GRAÇAS
Romanos “…8Antes de mais, dou graças ao meu Deus por todos vós, por meio de Jesus Cristo” – Rm 1, 8
1ª aos Coríntios “…Dou incessantemente graças ao meu Deus por vós…” – 1 Cor 1, 4
2ª aos Coríntios “Bendito seja Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação!” - - 2 Cor 1, 3
Gálatas Não há acção de graças
Efésios “3Bendito seja o Deus,
Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo,” – Ef 1, 3
Filipenses “…dou graças ao meu Deus, 4sempre, em toda a minha oração por todos vós” – Fl 1, 3-4
Colossenses “Damos graças a Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo” - Cl 1, 3
1ª Tessalónissenses “Damos continuamente graças a Deus por todos vós” – 1 Ts 1, 2
2ª Tessalónissenses “Devemos dar continuamente graças a Deus por vós, irmãos,” – 2 Ts 1, 3
1ª a Timóteo Não há acção de graças
2ª a Timóteo “Dou graças a Deus,” - 2 Tm 1, 3
Tito Não há acção de graças
Filémon “Dou graças ao meu Deus” – Flm 1, 4 -

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