6.05.2011

Identificação do tipo de retórica e das dimensões do Ethos, Pathos e Logos na Primeira Carta aos Tessalonicenses

1. Identificação do tipo de retórica

Segundo Aristóteles podemos distinguir três tipos de retórica: dissertação Expositiva, Deliberativa e Forense:

a) Dissertação Expositiva, que está relacionada com o louvor ou a crítica, celebrando valores e motivos comuns. A audiência é objecto de louvor ou de crítica. O tempo é o presente.

1 Tes 1, 2-10

2Damos continuamente graças a Deus por todos vós, recordando-vos sem cessar nas nossas orações; 3a vosso respeito, guardamos na memória a actividade da fé, o esforço da caridade e a constância da esperança, que vêm de Nosso Senhor Jesus Cristo, diante de Deus e nosso Pai, 4conhecendo bem, irmãos amados de Deus, a vossa eleição, 5pois o nosso Evangelho não se apresentou a vós apenas como uma simples palavra, mas também com poder e com muito êxito pela acção do Espírito Santo; vós sabeis como estivemos entre vós para vosso bem. 6Vós fizestes-vos imitadores nossos e do Senhor, acolhendo a Palavra em plena tribulação, com a alegria do Espírito Santo, 7tendo-vos, assim, tornado um modelo para todos os crentes na Macedónia e na Acaia. 8Na verdade, partindo de vós, a palavra do Senhor não só ecoou na Macedónia e na Acaia, mas por toda a parte se propagou a fama da vossa fé em Deus, de tal modo que não temos necessidade de falar disso. 9De facto, são eles próprios que contam o acolhimento que vós nos fizestes e como vos convertestes dos ídolos a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro 10e para aguardardes do Céu o seu Filho, que Ele ressuscitou de entre os mortos, Jesus, que nos livra da ira que está para vir.

Paulo louva a comunidade de Tessalónica, com quem tinha criado laços muito fortes.

b) Deliberativa, que está relacionada com Exortação ou a dissuasão. Tem como objectivo adoptar ou recusar uma determinada posição. Aqui, é a audiência que tem o papel de decisão: são os ouvintes que em última análise fazem a operação. O tempo desta retórica é o futuro, prevendo uma atitude a adquirir ou a concretizar.

1 Tes 4, 1-12

1Quanto ao resto, irmãos, pedimo-vos e exortamo-vos no Senhor Jesus Cristo, a fim de que, tendo aprendido de nós o modo como se deve caminhar e agradar a Deus - e já o fazeis - assim progridais sempre mais. 2Conheceis bem que preceitos vos demos da parte do Senhor Jesus. 3Esta é, na verdade, a vontade de Deus: a vossa santificação; que vos afasteis da devassidão, 4que cada um de vós saiba possuir o seu corpo em santidade e honra, 5sem se deixar levar pelo desejo da paixão como os pagãos que não conhecem Deus. 6Que ninguém, nesta matéria, defraude e se aproveite do seu irmão, porque o Senhor vinga tudo isto, como já vos dissemos e testemunhámos. 7Com efeito, Deus não nos chamou à impureza mas à santidade. 8Pois quem despreza estes preceitos não despreza um homem, mas o próprio Deus, que vos dá o seu Espírito Santo. 9A respeito do amor fraterno não precisais que se vos escreva, pois vós próprios fostes ensinados por Deus a amar-vos uns aos outros; 10aliás, vós já o fazeis com todos os irmãos da Macedónia. Exortamo-vos, irmãos, a progredir sempre mais, 11a ter como ponto de honra viver em paz, a ocupar-vos das próprias actividades, a trabalhar com as vossas mãos, como vos recomendámos, 12de modo que vos comporteis honestamente perante os de fora e não preciseis de ninguém.

Paulo exorta os Tessalonicenses a preservarem no caminho da santidade, da pureza, do amor mútuo, utilizando frequentemente os verbos no futuro.

c) Forense, que está relacionada com Acusação ou a defesa. O objectivo é assegurar que se faz justiça, ficando o juízo ao encargo dos ouvintes. O tempo é o do passado, pois pretende julgar algo feito no passado.

1 Tes 2, 1-12

1Irmãos, vós próprios bem sabeis que não foi vã a nossa estadia entre vós; 2mas, tendo sofrido e sido insultados em Filipos, como sabeis, sentimo-nos encorajados no nosso Deus a anunciar-vos o Evangelho de Deus no meio de grande luta. 3É que a nossa exortação não se inspirava nem no erro, nem na má fé, nem no engano. 4Como fomos postos à prova por Deus para nos ser confiado o Evangelho, assim falamos, não para agradar aos homens mas a Deus, que põe à prova os nossos corações. 5Por isso, nunca nos apresentámos com palavras de adulação, como sabeis, nem com pretextos de ambição. Deus é testemunha. 6Nem procurámos glória da parte dos homens, nem de vós, nem de outros. 7Quando nos poderíamos impor como apóstolos de Cristo, fomos, antes, afectuosos no meio de vós, como uma mãe que acalenta os seus filhos quando os alimenta. 8Tanta afeição sentíamos por vós, que desejávamos ardentemente partilhar convosco não só o Evangelho de Deus mas a própria vida, tão queridos nos éreis. 9Na verdade, irmãos, recordais-vos dos nossos esforços e das nossas canseiras: trabalhando noite e dia para não sermos um peso a nenhum de vós, anunciámo-vos o Evangelho de Deus. 10Vós sois testemunhas, e Deus também, de como nos comportámos de modo recto, justo e irrepreensível para convosco, os que acreditastes. 11Sabeis que, tal como um pai trata cada um dos seus filhos, também a cada um de vós 12exortámos, encorajámos e advertimos a caminhar de maneira digna de Deus, que vos chama ao seu reino e à sua glória.

Paulo defende-se e justifica-se das acusações feitas pelos filipenses, de que Tessalonicenses terão tido conhecimento, recordando a sua acção no passado, bem conhecida destes últimos.

2. Dimensões do Ethos, Pathos e Logos na argumentação - Probatio

Na sua obra sobre a retórica, Aristóteles distinguiu na argumentação três dimensões: Ethos, Pathos e Logos.

1. A argumentação baseada no carácter (ethos) do orador, ou seja, como o orador ganha a confiança do auditório.

1 Tes 2, 9-10

9Na verdade, irmãos, recordais-vos dos nossos esforços e das nossas canseiras: trabalhando noite e dia para não sermos um peso a nenhum de vós, anunciámo-vos o Evangelho de Deus. 10Vós sois testemunhas, e Deus também, de como nos comportámos de modo recto, justo e irrepreensível para convosco, os que acreditastes.

Paulo apela, na sua argumentação, à memória dos Tessalonicenses, para ganhar a sua confiança, face ao descrédito da sua pessoa promovido pelos filipenses.

2. A argumentação baseada no estado emocional (pathos) do auditório, ou seja, como é que o auditório reagiu.

1 Tes 4, 18

13Irmãos, não queremos deixar-vos na ignorância a respeito dos que faleceram, para não andardes tristes como os outros, que não têm esperança.

1 Tes 4, 18

18Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras.

Paulo, a partir da relação afectiva que tinha com a comunidade, faz apelo ao estado emocional dos Tessalonicenses, para captar a sua adesão ao que quer transmitir.

3. A argumentação baseada no argumento (logos) propriamente dito, ou seja, como está organizada a palavra.

1 Tes 5, 1-11

1Irmãos, quanto aos tempos e aos momentos, não precisais que vos escreva. 2Com efeito, vós próprios sabeis perfeitamente que o Dia do Senhor chega de noite como um ladrão. 3Quando disserem: «Paz e segurança», então se abaterá repentinamente sobre eles a ruína, como as dores de parto sobre a mulher grávida, e não escaparão a isso. 4Mas vós, irmãos, não estais nas trevas, de modo que esse dia vos surpreenda como um ladrão. 5Na verdade, todos vós sois filhos da luz e filhos do dia. Não somos nem da noite nem das trevas. 6Não durmamos, pois, como os outros, mas vigiemos e sejamos sóbrios. 7Os que dormem, dormem de noite e os que se embriagam, embriagam-se de noite. 8Ao contrário, nós que somos do dia, sejamos sóbrios, revestidos com a couraça da fé e da caridade e com o elmo da esperança da salvação. 9De facto, Deus não nos destinou à ira mas à posse da salvação por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo 10que morreu por nós, a fim de que, quer durmamos, quer estejamos vigilantes, com Ele vivamos unidos. 11Consolai-vos, pois, uns aos outros e edificai-vos reciprocamente, como já o fazeis.

Paulo desenvolve a sua argumentação, organizando e elaborando o seu discurso.

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