6.04.2011

Estudo da Carta aos Filipenses

Carta aos Filipenses

A Carta aos Filipenses consiste numa das cartas mais pessoais redigida por Paulo, juntamente com a Carta a Filêmon.

Com tema principal Paulo apresenta-nos o anúncio do Evangelho no sofrimentos e dificuldades.

Não se trata de uma carta muito extensa, mas Paulo escreve com grande afeição, cordialidade e carinho. Demonstra assim, as suas relações afectuosas com a comunidade, que se deve manter fiel na Fé.

A cidade de Filipos

A cidade de Filipos, era uma cidade localizada na Macedónia, e consistia numa colónia romana. Estimula-se que teria por volta de 5 a 10 mil habitantes, sendo a língua oficial era o Latim, mas Paulo também escreve a carta em Grego, o que leva a crer que também se falaria Grego em Filipos, como em Fl 4,3 – “Clemente”, nome romano ou em Fl 4,2 – a existência de nomes gregos.

O sincretismo religioso era dominante, divindades pagãs e cultos mistéricos apresentavam grande destaque em Filipos.

Paulo evangeliza Filipos, numa das suas viagens, por volta do ano 50 d.C. Esta foi a primeira cidade Europeia a acolher o Evangelho. É através da conversão de Lídia, uma negociante de purpura da cidade de Tiatira, que começa a criação desta comunidade, como nos relatam os Actos dos Apóstolos (At 16,12-40).

Apesar de todo o sincretismo existente, existe uma pequena comunidade judaica, que não tendo uma Sinagoga, celebra as suas liturgias à beira do rio, existente ao lado da cidade. Paulo irá visitar esta comunidade por mais duas vezes, por volta do ano 56-57 d.C (At 20, 1-2) e em 57-58 d.C (At 20, 3-6).

A comunidade que Paulo conquista, torna-se sua grande devota, proporcionando-lhe em várias situações auxílio e assistência, como em Tessalónica (Fl 4,16) e Corinto (2 Cor 11,9).

Elaboração da Carta

Esta carta é escrita enquanto Paulo se encontra em cativeiro, aguardando julgamento (1,7.13.14.17). Paulo faz inúmeras referências à “prisão”, como em Fl 1, 13-16:

13De maneira que as minhas prisões em Cristo foram manifestas por toda a guarda pretoriana, e por todos os demais lugares;

14E muitos dos irmãos no SENHOR, tomando ânimo com as minhas prisões, ousam falar a palavra mais confiadamente, sem temor.

15Verdade é que também alguns pregam a Cristo por inveja e porfia, mas outros de boa vontade;

16Uns, na verdade, anunciam a Cristo por contenção, não puramente, julgando acrescentar aflição às minhas prisões.” ; o que levanta a questão de saber que cativeiro se trata.

Surgem assim várias hipóteses relativamente ao cativeiro em que Paulo sem encontrava, e consequentemente à elaboração da carta. Em 1,13 Paulo fala de “pretório” e em 4,22 fala “os da casa de César”, tais informações sugerem várias hipóteses de elaboração da carta.

Analisando:

§ “Pretório” - consiste na moradia da guarda pretoriana nas dependências do Imperador, na cidade de Roma. No entanto, também se encontra “pretório” em outras cidades do império, como sendo residência do governador ou do pró-consul.

§ “os da casa de César” – expressão que poderá indicar todas pessoas que se encontram ao serviço do imperador, quer em Roma, quer em núcleos urbanos do império romano.

Assim surgem várias hipóteses relativas ao local em que foi escrita a Carta, em Roma, Éfeso, Cesareia e Corinto.

§ Elaboração da carta em Roma:

Tendo em conta as expressões apresentadas anteriormente, poderá considerar-se que a Carta aos Filipenses, terá sido escrita em Roma, no 61-62 d.C (At 28, 16-31).

No entanto, devido à distância existente entre as duas cidades, Roma e Filipos, que encontram-se a cerca de 1,300 Km de distância, o que dificultaria os contactos contínuos entre os membros da comunidade e Paulo, leva a crer que a carta não terá sido escrita em Roma. Se assim fosse, seria difícil de explicar vários acontecimentos:

- Os filipenses enviam Epafródito a Paulo (2,25), no entanto o Apóstolo devolve-o à comunidade devido a uma enfermidade.

- Paulo, depois da sua libertação, pensa em visitar a comunidade (1,26), no entanto, em Rm 15,23.28, Paulo depois da sua libertação do cativeiro em Roma, pretende ir a Espanha, não a Filipos.

- Pela carta, é de salientar que Paulo não parece ter grande liberdade de acção como acontece em Roma, em At 28, 17-22.

§ Elaboração da carta em Cesaréia:

Outra hipótese que surge, referente à elaboração da carta, será em Cesaréia da Palestina, em 59 d.C. Nesta cidade existe um pretório (At 24,35) e Paulo fica preso durante dois anos (At 23,33; 24,27), apelando a César (At 25,11; 26,32), como se pode ver pelo texto lucano em At 23, 31-35:

31Tomando, pois, os soldados a Paulo, como lhe fora mandado, o trouxeram de noite a Antipátride. 32E no dia seguinte, deixando aos de cavalo irem com ele, tornaram à fortaleza. 33Os quais, logo que chegaram a Cesaréia, e entregaram a carta ao presidente, lhe apresentaram Paulo. 34E o presidente, lida a carta, perguntou de que província era; e, sabendo que era da Cilícia,35Disse: Ouvir-te-ei, quando também aqui vierem os teus acusadores. E mandou que o guardassem no pretório de Herodes.” .

No entanto, a distância entre Cesaréia e Filipos continua a ser bastante grande, para a realização destes movimentos, mas não impossível. O que leva a pôr em

causa esta hipótese de Cesaréia.

  • Elaboração da carta em Éfeso:

Muitos autores consideram que a redacção da carta terá sido em Éfeso no ano 56-57 d.C. Tendo em conta a narração dos Actos, Paulo permanece na cidade durante três anos (At 19, 1-20), passando por grandes dificuldades.

Na 1ª Carta a Coríntios em 15,32, Paulo faz referência às suas dificuldades passadas em Éfeso “Se fosse apenas por motivos humanos, de que me adiantaria ter combatido contra as feras em Éfeso?...”. Também as refere em 2 Cor 1,3-8 3 Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação; 4Que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus.5Porque, como as aflições de Cristo são abundantes em nós, assim também é abundante a nossa consolação por meio de Cristo. 6Mas, se somos atribulados, é para vossa consolação e salvação; ou, se somos consolados, para vossa consolação e salvação é, a qual se opera suportando com paciência as mesmas aflições que nós também padecemos; 7E a nossa esperança acerca de vós é firme, sabendo que, como sois participantes das aflições, assim o sereis também da consolação.

8Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na Ásia, pois que fomos sobremaneira agravados mais do que podíamos suportar, de modo tal que até da vida desesperamos.”, tendo em conta tais provações, poderiam ser estas as relatadas em Fl 1,13-19.

- As cidades de Filipos e Éfeso encontram-se mais próximas, o que poderia explicar mais facilmente, as constantes comunicações.

Esquema da Carta

  • Endereço | 1, 1-2
  • Acção de graças e oração | 1, 3-11
  • Informações | 1, 12-26

Situação em que se encontra Paulo

  • Exortações | 1,27-2,18

Apelo pela luta conjunta pela Fé

Viver na caridade, em procura pela santidade

  • Futuros projectos | 2, 19-3,1

Missão de Timóteo a Filipos

Volta de Epafrodito doente

  • Adversários | 3,2 –4,1

Devido à existência de “maus obreiros” que ameaçam a comunidade (3,2), Paulo afirma, novamente, o verdadeiro caminho da salvação cristã, o qual passa pela participação na morte e ressurreição de Cristo.

  • Exortação | 4,2-9

Viver em paz, evitando tensões

  • Agradecimento | 4,10-20

Relativamente aos donativos recebidos

  • Conclusão | 4,21-23

Sem comentários:

Enviar um comentário